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Gastronomia

Ariosvaldo Brandão, o jovem angolano que passou da engenharia para a mesa

Ariosvaldo Brandão é um jovem angolano que é apaixonado pelo mundo da culinária. O jovem, que cresceu em Luanda, viajou além-fronteiras, tendo vivido na Rússia durante quatro anos, onde, além de ter estudado engenharia informática, teve a oportunidade de desenvolver o seu sonho no universo culinário.

: Tanya Max
Tanya Max  

Em entrevista ao VerAngola, Ariosvaldo relembra um pouco a sua infância. "Sempre fui alguém muito fechado, nunca gostei de sair, mas gostava de estar com os amigos sempre que podia", revela, acrescentando que a sua infância também foi marcada pelo mundo informático.

"Explorar computador e telefones na minha infância foi algo marcante também, abrir para poder ver o que estava por detrás", afirmou.

No entanto, a paixão pela culinária acabou por falar mais alto. Ao VerAngola, Ariosvaldo Brandão conta que este seu interesse surgiu ainda muito novo, quando tinha entre 12 a 13 anos: "Sempre tive um gosto pela cozinha desde pequeno, isto com 12/13 anos, por vezes fazia o almoço de casa, porém comecei a desenvolver e a ter mais certeza quando fui para Rússia, tive mais liberdade de fazer iguarias".

O jovem rumou até à Rússia para estudar engenharia informática, no entanto, foi neste país que conseguiu desenvolver a sua verdadeira paixão, chegando mesmo a despertar a sua veia de empreendedor com a venda de bolos e fast-food.

"Infelizmente já não me encontro na Rússia, morei quatro anos e foi fantástico, tive uma descoberta enorme sobre a cozinha e comecei a fazer um pequeno empreendimento de vender bolos e fast-food, cheguei até a trabalhar como chef de cozinha lá por um ano", afirma, acrescentando: "Engenharia informática e a Rússia porque foi uma oportunidade que consegui e então abracei-a, mas não até ao fim, porque o gosto da cozinha e meus objectivos até dada altura não coincidiram e deixei de lado a engenharia".

Embora não tenha nenhuma formação profissional no campo da culinária, Ariosvaldo disse que quando começou a trabalhar decidiu fazer um curso de culinária na Rússia, tendo terminado "com êxito obtendo a nota 4 (na Rússia a nota é de 0 a 5), para mais noção daquilo que é a cozinha".

O jovem não tem ficado parado no que toca à culinária. No seu percurso soma a venda de bolos e fast-food, passagem por um estabelecimento de fast-food, bem como o cargo de chef de cozinha num restaurante. "Venda de bolos e fast-food em casa, trabalhei num estabelecimento de fast-food, meses depois fui chamado para trabalhar num restaurante na qual depois de dois meses tornei-me o chef de cozinha de lá", conta.

"Agora estando em Angola, estou a trabalhar como cozinheiro, por enquanto o meu objectivo é obter um a dois anos de experiência, explorando e aprendendo várias áreas dentro do ramo e só assim depois voltar a ocupar a posição de chef de cozinha de volta", afirmou, em declarações ao VerAngola, acrescentando que o seu sonho é tornar-se num chef profissional e conceituado internacionalmente.

Apesar de não ter chefs que admira, o jovem não deixou de mencionar o Massimo Bottura e o Leonardo Abreu. "Espero um dia poder conhece-los pessoalmente e beber de suas experiências".

A tentativa-erro é uma realidade na cozinha e também Ariosvaldo já teve experiências menos boas e caricatas. Com 14 anos tentou fazer uma sobremesa de chocolate, mas só no final é que reparou que o chocolate estava fora da validade: "Tentei fazer uma sobremesa de chocolate e só depois de estar pronta notei que o prazo do chocolate estava vencido, isto com 14 anos se não me engano".

Contudo, a prática leva à perfeição e hoje já pode dizer que tem uma especialidade.

"Acho que meu prato de assinatura seria 'O Risotto'. Adoro misturar diferentes ingredientes para criar uma delícia de conversa, pois o risotto é um prato onde podes explorar muito sem fugir da sua base", afirmou.

Já olhando para a cozinha nacional, o jovem pinta-a como "uma explosão de sabores e tradições únicas".

"Com uma rica diversidade de ingredientes, influências culturais e técnicas culinárias, a comida de Angola cativa os sentidos. Pratos como o 'muamba de galinha' e o 'calulu' reflectem a herança cultural do país, combinando ingredientes locais de maneiras deliciosas. Os sabores intensos, a preferência por ingredientes frescos, fazem da cozinha angolana uma experiência única", completou.

Sem preferências em termos de gastronomia ou restaurante, o jovem diz o prato que mais aprecia na gastronomia nacional é o mufete: "É o mufete, apesar de não gostar de peixe, é um prato que aprecio muito".

"Não tenho uma gastronomia preferida ou que admire bastante ainda, mas a angolana é uma que ainda tenho muito para explorar e aprender, pois os pratos e gostos sempre estiveram mais voltados para o exterior (europeu, asiático e por aí fora)", adianta.

Relativamente a restaurantes, o jovem deixou como recomendação 'A Carne da Villa'. "Não tenho um restaurante favorito, mas recomendaria A Carne da Villa que é onde trabalho actualmente".

Ariosvaldo acha que a gastronomia do país pode ainda levar uma 'pitada de sal'. Segundo o jovem "falta mais inovação e experimentação".

"Poder criar uma melhor promoção e preservação das receitas tradicionais, juntamente com a incorporação de técnicas modernas, poderiam elevar ainda mais a culinária angolana e formação de chefs locais pode contribuir para um maior reconhecimento internacional de riqueza gastronómica de Angola", sugeriu.

O jovem considerou que os angolanos ainda não dão muito valor à cozinha de autor, porque a sociedade ainda não se encontra preparada, faltando abertura para tal: "Digo que nem tanto porque a nossa sociedade ainda não está preparada e não dão muita abertura para isso. No entanto, é importante notar que as preferências individuais podem variar, e algumas pessoas podem preferir a autenticidade e a tradição na culinária".

Já relativamente a objectivos futuros, Ariosvaldo revela que pretende "obter mais experiência a cada dia, podendo assim abrir" um espaço seu. "Poder formar outras pessoas que também amam esta arte, gerar emprego e sem esquecer que seria gratificante obter a minha licenciatura em gastronomia ou num ramo ligado a ela", completou.

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