Ver Angola

Ambiente

Caça furtiva no país pode ameaçar migração de elefantes a partir do Botsuana

O ambientalista angolano Vladimiro Russo considerou “necessária” a reativação de rota migratória de elefantes, no percurso Botsuana, Namíbia, Angola e Zâmbia, defendendo um reforço da fiscalização em Angola, sobretudo na província do Cuando Cubango, devido à caça furtiva.

:

O Botsuana regista uma população excessiva de elefantes, situação que concorre para o aumento de conflitos entre os paquidermes e os agricultores. Para desafogar o quadro conflituoso, centenas desses animais podem ter como destino Angola e a Zâmbia.

Em declarações à Lusa, Vladimiro Russo recordou que o Botsuana alberga dois terços da população de elefantes de savana da África subsaariana e nos últimos tempos "tem sentido, de facto, uma pressão muito grande", agravando o conflito entre estes animais e o homem.

Entre as sugestões que aquele país tem feito para "desanuviar o problema", sublinhou, encontra-se a reabertura da rota migratória que os elefantes faziam no passado, seguindo para norte do Botsuana para a Namíbia, entrando por Angola e saindo pela Zâmbia.

"Há uma necessidade de se reactivar essa rota, por ser uma rota interrompida, principalmente, por causa de uma cerca sanitária que foi instalada na Namíbia e no Botsuana, para evitar o alastramento de uma doença relacionada ao gado bovino", disse.

A remoção desses obstáculos, notou, "vai facilitar a migração dos elefantes, é algo que é benéfico para todos e é importante" também em "questões relacionadas com a caça furtiva".

"Porque se a nível da Namíbia e do Botsuana há um controlo melhor das suas fronteiras, já a nível da província do Cuando Cubango não temos esse controlo e temos um registo de caça furtiva crescente nos últimos anos", assinalou.

"Podemos estar a ter um problema relacionado com o aumento da caça furtiva nessa região, para além disso é necessário reactivar essa rota migratória que foi utilizada pelos animais", apontou o ambientalista.

O também membro do comité executivo de conservação da Palanca Negra Gigante recordou que no passado, entre 2000 e 2001, o Botsuana e a África do Sul já ofereceram elefantes para povoar a área especial de conservação do Parque Nacional da Quiçama, em Angola.

Segundo Vladimiro Russo, para a segurança desses animais, em Angola, é necessário que se reforce a fiscalização com recursos humanos, meios técnicos e postos avançados nos parques Luiengue-Luiana e Mavinga, província do Cuando Cubango.

"Tem que se fazer um reforço muito grande nesta área, para permitir que os animais possam reactivar essa rota migratória em segurança e não sejam afectados em termos de caça furtiva no nosso país", adiantou.

Um "investimento muito grande tem sido feito em termos de estudos, porque estas duas áreas de conservação, Luiengue-Luiana e Mavinga, fazem também parte da área transfronteiriça Okavango-Zambeze", acrescentou.

Angola está entre os cinco países que compõem o Kaza (Projeto Transfronteiriço de Desenvolvimento Okavango-Zambeze), nomeadamente Botsuana, Namíbia, Zâmbia e Zimbábue, e "precisa dar mais passos mais seguros no que diz respeito à fiscalização e o patrulhamento" na província do Cuando Cubango, realçou o responsável.

Vladimiro Russo é também membro do Conselho de Concertação Económica, criado recentemente pelo Presidente João Lourenço.

O número de mamíferos selvagens na principal reserva natural de Angola, a Quiçama, registou um declínio de 77 por cento durante os 27 anos da guerra civil, revelou um estudo publicado em Setembro na revista Nature Scientific Reports.

Os investigadores da Universidade de East Anglia (Reino Unido), Universidade Federal da Paraíba (Brasil) e Universidade de Agostinho Neto (Angola) estudaram 26 espécies existentes no Parque Nacional e na Reserva de Caça da Quiçama, tendo concluído que o número de mamíferos selvagens em 20 dessas espécies sofreu uma redução de 77 por cento durante o período da guerra civil (1975-2002).

Esta redução foi particularmente significativa nas espécies de grande porte, como os elefantes, e mais em zonas de savana do que de floresta, um declínio que não foi invertido até ao final do período pós-guerra (2002-2017).

Angola alberga pelo menos 275 espécies de mamíferos, muitas delas historicamente caçadas pelas comunidades locais antes, durante e após os 27 anos da guerra civil.

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.