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Economia

Angola entre o desafio do crescimento e a incerteza das autárquicas em 2020

Depois de um 2019 difícil, o país volta a entrar pessimista num novo ano, que será marcado pelos desafios do crescimento económico e a incerteza das eleições autárquicas que o presidente João Lourenço prometeu realizar, pela primeira vez, em 2020.

Edmundo Eucilio/JAIMAGENS:

"O principal desafio que o governo enfrenta é o do crescimento económico: tentar inverter as projecções negativas depois de mais um ano difícil e cumprir as previsões", disse à Lusa o economista Carlos Rosado, considerando que este é também um passo importante para devolver a confiança aos agentes económicos.

O governo antecipa uma retoma do crescimento económico em 2020, apontando para um aumento de 1,8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), mas várias consultoras internacionais consideram esta perspectiva irrealista e admitem que o país vai continuar em recessão.

Uma recessão que já dura há quatro anos e tem sido ditada essencialmente pela quebra da produção de petróleo, mais do que pela descida de preços do crude.

Angola prevê produzir em 2020 mais 46 mil barris de petróleo por dia, aumentando a produção diária de 1,39 milhões para mais de 1,43 milhões, mas os números parecem excessivamente optimistas para o economista.

"Não sei se a previsão do próximo ano se vai concretizar, não sei se vão conseguir ter esse crescimento. Diria que o grande desafio já nem é aumentar a produção, é não deixar cair" afirmou, acrescentando que os dados do governo têm sido "inflacionados" face às previsões dos técnicos e que, "de um ano para o outro, não é possível mudar o curso da produção" que tem estado em declínio.

"O problema é o petróleo e isso causa problemas que se juntam a outros, como o peso da dívida pública", salientou o economista.

A desvalorização do kwanza vai também continuar a afligir a população, a par da inflação galopante, que deverá crescer para uma taxa de 25 por cento em 2020.

"É uma das taxas mais elevadas do mundo e é muito provável que o kwanza continue a seguir uma tendência de desvalorização. 2020 vai ser um teste para a nova política cambial, sobretudo em Janeiro, quando os bancos comerciais começarem a comprar directamente divisas às petrolíferas", disse

Uma conjuntura desfavorável que vai continuar a reflectir-se na degradação do poder de compra e a gerar contestação social, o que Carlos Rosado considera ser "natural" e que se fez sentir também nos países sujeitos a austeridade imposta por programas de assistência do FMI [Fundo Monetário Internacional] como o que está actualmente em curso em Angola.

"Ainda não batemos no fundo. O que me admira é que não haja mais contestação", declarou, lembrando que em Portugal e na Grécia no tempo da 'troika' havia manifestações todas as semanas.

"Isso é uma coisa perfeitamente natural. As pessoas estão a viver pior, é natural que se manifestem. Em Angola há uma hipersensibilidade às manifestações, mas elas são normais, e nesse ponto de vista até me admira a letargia dos sindicatos face à perda de poder de compra dos trabalhadores", destacou.

Questionado sobre as expectativas quanto à realização das primeiras eleições autárquicas em Angola, prometidas por João Lourenço, mas que a oposição duvida que venham a acontecer em 2020, Carlos Rosado mostrou-se igualmente céptico.

"Espero que se realizem, mas tenho cada vez mais dúvidas", vincou, considerando que "um eventual adiamento será resultante da falta de vontade política e não da falta de verbas".

Mas a não realização do escrutínio terá efeitos negativos para o Presidente da República: "depois de o MPLA não se querer comprometer, uma das coisas em que João Lourenço quis fazer a diferença foi precisamente dizendo que haveria eleições autárquicas em 2020. Ou o presidente dá uma boa razão [para o adiamento] ou vai perder a face", defendeu o economista.

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