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O engenheiro que passou a arquitecto deixa o poder 40 anos depois

José Eduardo dos Santos, ou ‘Zedu' como é tratado em Angola, completou em Setembro 37 anos como Presidente, mas a sua experiência governativa começou a 11 de Novembro de 1975, com o primeiro Governo do país, então ministro das Relações Exteriores.

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Em mais de 40 anos em funções, em 1979 sucedendo a António Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos apenas governou em período de paz durante menos de uma década e meia e encarou directamente apenas duas eleições (1992 e 2012), além de umas eleições legislativas (2008).

"Não é uma substituição fácil, nem tão pouco me parece uma substituição possível. É apenas uma substituição necessária", disse, no seu discurso de tomada de posse como Presidente da República, substituindo Agostinho Neto.

Seguir-se-iam vários anos de críticas, internas e externas, sobre a violação de direitos humanos e a corrupção das elites governativas.

Actualmente, sob proposta de José Eduardo dos Santos, o Comité Central aprovou o nome do general João Lourenço para ser candidato às eleições gerais de 2017 em Angola.

Formado em Engenharia de Petróleos no Azerbaijão, em 1969, José Eduardo dos Santos nunca exerceu e acabou por ser conhecido como o "Arquitecto da Paz" pelos apoiantes, do MPLA, designação também por vezes lida e ouvida na comunicação social pública.

A guerra civil que se sucedeu à proclamação da independência, entre forças leais ao Governo do MPLA e as da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), teve um interregno em 1992, com as primeiras eleições.

José Eduardo dos Santos e o MPLA proclamaram vitória sobre a UNITA de Jonas Savimbi, mas a oposição nunca aceitou o resultado, seguindo-se uma nova fase, mais violenta, da guerra civil que destruiu grande parte do país.

O conflito prolongou-se, provocando mais de um milhão de mortos e, sempre no poder, ‘Zedu' deixava o aviso, em Junho de 2001, durante uma cimeira tripartida entre Angola e os vizinhos Namíbia e Zâmbia: "A guerra vai acabar, Jonas Savimbi está a chegar ao fim e podemos ir pensando o que faremos depois".

Em Agosto do mesmo ano, numa reunião do Comité Central do MPLA e percebendo-se que o fim da guerra estava eminente, deixou uma das declarações mais polémicas, ao avisar que não estava disponível para continuar no poder.

Com este anúncio, João Lourenço, então secretário-geral do partido, apresentou-se à sucessão, mas acabou afastado da cúpula, enquanto José Eduardo dos Santos voltava a suceder a ele próprio no MPLA.

Entretanto, novas eleições (legislativas) só voltaram a ter lugar em 2008, seis anos depois do fim do guerra civil e da morte de Jonas Savimbi, em 2002, com o MPLA a arrecadar 82 por cento dos votos e José Eduardo dos Santos na Presidência do país e do partido.

Este novo quadro saído das eleições legislativas de 2008 permitiu ao partido aprovar, em 2010, uma nova Constituição, deixando de prever eleições presidenciais e estipulando que o cabeça de lista do partido mais votado é nomeado automaticamente Presidente da República.

Nas eleições de 2012, a segunda em que foi directamente a votos como candidato, José Eduardo dos Santos foi nomeado chefe de Estado, ao encabeçar a lista do partido mais votado, o MPLA.

"Não faço promessas sem pensar. Os que prometem muito, porque prometer é fácil, principalmente quando não se tem sentido de responsabilidade de Estado e quando se pretende unicamente enganar os eleitores para se conseguir votos", afirmou, ainda durante a campanha eleitoral, a última que disputou.

Desde que assumiu o cargo de chefe de Estado, já viu passar sete Presidentes em Portugal e seis nos Estados Unidos, país que apenas reconheceu o Governo angolano do MPLA a 19 de Maio de 1993, depois de anos de apoio, inclusive militar, à oposição.

Em quatro décadas de poder foram raras as entrevistas concedidas por José Eduardo dos Santos, que nos últimos anos passou a limitar-se à leitura de discursos, em pontuais cerimónias públicas.

"Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política activa em 2018", disse, em Março último.

Uma frase que teve tanto de lacónica como de polémica e sobre um assunto ao qual não voltaria durante oito meses.

Alheio às críticas, nunca esclareceu os rumores sobre problemas de saúde, que alguma imprensa privada relacionava com tratamentos nas frequentes e prolongadas anunciadas visitas privadas a Espanha.

Nascido a 28 de Agosto de 1942 em Luanda, José Eduardo dos Santos viveu até à juventude no bairro do Sambizanga, na capital, mas aos 19 anos deixou o país, quando já integrava grupos clandestinos de oposição ao regime colonial português.

É um dos fundadores da Juventude do MPLA, que chegou a coordenar no exterior, e em 1962 integrou o Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA), até que no ano seguinte se tornou no primeiro representante do partido em Brazzaville, capital da República do Congo.

Em Setembro de 1975 entra para a elite do partido, sendo eleito membro do Comité Central e do Bureau Político do MPLA, avançando com naturalidade para o Governo de Agostinho Neto, depois da proclamação da independência.

Foi como chefe da diplomacia que conseguiu o primeiro objectivo nacional para a então República Popular de Angola, em guerra. Conseguiu em 1976 o reconhecimento do país, após intensa luta diplomática, como membro de pleno direito da Organização da Unidade Africana (OUA) e da Organização das Nações Unidas (ONU).

Entretanto, exerceu, no Governo, o cargo de primeiro vice-primeiro-ministro, até Dezembro de 1978, altura em que foi nomeado ministro do Plano, antecedendo a sua chamada para a Presidência do país, funções em que se manteve durante os 37 anos seguintes, o segundo líder mais antigo de África.

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