Este período de estabilidade na cotação, o mais prolongado desde o início da crise, no final de 2014, acontece, segundo contam as kinguilas de Luanda, como são chamadas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas, porque está "cada vez mais difícil a aquisição de kwanzas e de dólares nas ruas".
Nos principais pontos de transacção nas ruas de Luanda, cada dólar ronda desde Outubro os 490 kwanzas, perante o desalento de Maria Equatequate, que há dois anos transacciona divisas nas ruas do centro da capital e lamenta a fraca procura e oferta.
"Não há concorrência, não há clientes, não há dólar, não há kwanzas na rua. O preço está mesmo estável já há três meses", observa a 'kinguila'.
Mãe de cinco filhos, Maria Equatequate revela que face à dificuldade de venda e troca de divisas, a alternativa tem sido a comercialização de cartões de recargas telefónicas. "Para sustentar a família dependemos apenas da venda de cartões de saldo para telefones, esta época a situação está mais complicada, não há kwanzas, não há divisas e vamos passar assim a quadra festiva, assim mesmo sem nada para os filhos", desabafa, embora sabendo da ilegalidade do seu negócio.
Um outro ponto de referência de compra e venda de divisas nas ruas é o bairro do São Paulo, onde Luísa Monteiro, na actividade há sete anos, aponta as dificuldades diárias. "O nosso dia-a-dia esta mal, a kinguila de hoje não é a kinguila de antes. Neste momento apenas estamos a depender da venda de saldo [recargas], já não conseguimos trocar 100 dólares. O kwanza desapareceu, o dólar desapareceu", lamenta.
"Podemos ficar mesmo mais de uma semana sem trocar alguma nota. Para sustentar a família neste momento estamos apenas a depender da venda do saldo, se comprar uma caixa de saldo a 62.000 kwanzas para lucrar 2500 kwanzas e poder deixar o dinheiro do pão para as crianças", acrescentou.
Além disso, por se tratar de uma actividade ilegal, estas mulheres enfrentam ainda a vigilância policial, num negócio por norma feito em plena rua.
Segundo as rondas semanais realizadas pela Lusa, há pelo menos dois meses que o preço no mercado de rua permanece estável, enquanto o acesso a dólares ou euros nos bancos permanece quase impossível ou com limitações.