O comboio expresso, que circula apenas desde Quinta-feira e que se destina a servir o novo AIAAN, partiu este Domingo pontualmente às 04h00 da estação do Bungo, em Luanda, com um único passageiro para Luanda, José Marques, que seguiu acompanhado por equipas de reportagem, funcionários do Caminhos de Ferro de Luanda, polícias e trabalhadores aeroportuários.
A automotora chinesa, conhecida como DMU (Unidade Múltipla Diesel), ainda a cheirar a novo, seguiu devagarinho, noite escura adentro e demorou uma hora e 15 minutos a chegar ao destino final, 44 quilómetros depois.
Para José Marques, que confessa que ia perdendo o comboio por se ter deixado adormecer quando o despertador tocou, às 03h00, esta foi a melhor solução que encontrou a nível de transportes públicos em termos de custo.
"Pesquisei e os preços que me estavam a dar eram bastante altos (para os táxis personalizados), o mais barato eram 15.000 kwanzas e vi que podia gastar menos vindo de comboio", explicou à Lusa.
Procurou informação nas redes sociais, comprou o bilhete de véspera (ao preço de 5000 kwanzas) e considerou que o comboio "funciona bem", embora tenha alguns reparos quanto ao serviço nas bilheteiras, onde não conseguiu pagar com cartão.
"É um apelo que deixo, tem de ter um TPA (terminal de pagamento), foi um exercício ter de ir aquela hora levantar dinheiro para ir pagar um bilhete. Não se justifica sobretudo agora que vão ter bastante afluência de passageiros para Cabinda", comentou.
Recomenda também a criação de uma aplicação que facilite a mobilidade dos passageiros, conjugando os vários modos de transporte e horários disponíveis, tendo em conta que a informação não está facilmente acessível, e um número de telefone para esclarecer dúvidas aos passageiros.
"A informação disponível deve ser maior, porque não ter um aplicativo, um número para onde se possa ligar e ter informação actualizada?", questionou, sublinhando que o aeroporto vai gerir um tráfego maior e deve pensar na modernização dos serviços para os passageiros.
José Marques elogiou o início das ligações para Cabinda a partir do novo AIAAN, que "ficam na história" já que é a primeira província a receber voos de passageiros, mas ao mesmo tempo é "um stress".
"Nós, os passageiros de Cabinda é que vamos servir de ensaio do funcionamento do aeroporto. É toda uma dinâmica nova para a vida dos passageiros de Cabinda", afirmou, notando que este destino recebe um fluxo significativo de passageiros que têm de se adaptar às novas circunstâncias.
"É um stress grande, sobretudo para quem tem menos informação sobre como aceder ao aeroporto", disse José Marques.
"Acredito que por isso é que não vai cheio (o comboio)", defendeu, mostrando-se surpreendido com a ausência de viajantes, "até porque as condições são óptimas".
Na única paragem intermédia, Viana, três jovens funcionários da área de restauração do lounge da TAAG estão também a estrear-se nesta nova modalidade de transporte para irem para o trabalho.
"É a primeira vez que apanho este comboio, é a primeira vez que nos leva para o aeroporto", disse Sérgio Miguel, acrescentando que, até à data, tem usado sobretudo transporte da empresa.
Mas, na ausência deste, teria de apanhar vários táxis (colectivos de passageiros): "era super difícil e com o comboio está a ser mais flexível, mais calmo, mais confortável e mais seguro também devido à hora em que tínhamos de sair de casa" para o novo aeroporto.
Os trabalhadores podem ter acesso a passes mensais com desconto, adiantou, salientando que esta está a ser "uma nova experiência, boa de viver", agradecendo a oportunidade.
Maquinista há 13 anos, Cláudio Bastos não esconde o orgulho de participar nesta "nova meta" que se junta à experiência conseguida noutros tipo de comboios, mas a entrevista tem de ser interrompida.
É preciso partir e sob o comando seguro de Cláudio, a DMU apita e prossegue a viagem.
Às 05h15, o comboio aproxima-se da plataforma vazia, que contrasta com a confusão dos passageiros apressados característica dos aeroportos mais movimentados.
Por aqui, o dia está a despontar, e apenas o zumbido dos grilos interrompe o silêncio da estação deserta que começou no Domingo a receber os primeiros passageiros.