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Activistas saúdam diálogo com Presidente mas mantêm reivindicações

Activistas que esta Quinta-feira se encontraram com João Lourenço elogiam a iniciativa de diálogo com os jovens, mas avisam que vão continuar a lutar para verem atendidas as suas reivindicações, não descartando futuras manifestações.

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Nito Alves, um dos "revus" (jovens do movimento revolucionário), afirmou ter vindo "dialogar de forma ética com o Presidente da República", considerando positivo que João Lourenço tenha aberto esta via.

"Jorrou o meu sangue no chão como vocês viram e o meu amigo foi morto a tiro", disse o activista, que foi agredido e teve de receber tratamento hospitalar numa das últimas manifestações em Luanda, afirmando que haverá momentos de paz e de guerra.

"Não se alcança a paz esmagando o opositor, haverá momentos de paz e momentos de guerra isso não significa uma declaração de conflito com o Governo ou entre nós", destacou o activista.

Nito Alves declarou que vai reunir-se com os seus colegas e chegar a um consenso para tomar uma decisão sobre o que fazer no futuro, considerando que "haver pessoas do musseque, do subúrbio, sentando com o Presidente da República" mostra que foi dado "um passo extraordinário" na construção da democracia do país.

Sobre se vão convocar novas manifestações na rua, remeteu-se ao silêncio, afirmando apenas que as reivindicações são públicas: "Queremos pão, água, luz, saúde, educação, emprego e ter uma casa condigna".

Francisco Teixeira, presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos e um dos 100 detidos da manifestação de 24 de Outubro afirmou ter acedido ao convite na qualidade de líder de um dos maiores movimentos de estudantes do país, que integra o Conselho Nacional da Juventude, co-organizador do evento.

O dirigente do movimento salientou o empenho em trazer mais activistas cívicos para participarem no encontro, que considerou estarem na origem da iniciativa.

"No fundo, fomos os responsáveis deste dia de hoje por causa da pressão de rua que fizemos nestes dois últimos actos", afirmou, numa alusão às duas últimas tentativas de manifestação, duramente reprimidas pela polícia.

Francisco Teixeira disse que mais do que as respostas que João Lourenço possa dar aos jovens "o mais importante é que as preocupações sejam atendidas", apontando problemas como a precariedade do ensino público, mercantilização do ensino por parte de muitos dirigentes angolanos, violação dos direitos das crianças ou financiamento das escolas públicas.

"[Queremos] uma educação onde cabemos todos", advogou, proclamando que "um país só é justo, belo e lindo quando todos os cidadãos cabem nele", criticando ainda "situações insultuosas como o pagamento de um hino que dava para construir três escolas".

Questionado sobre se os estudantes irão voltar a novas marchas de protesto, Francisco Teixeira respondeu que vai reunir o secretariado do movimento "e ver se vale a pena continuar" dependendo da resolução que for dada aos problemas.

"Podemos pensar em dar uma moratória de seis meses e voltar a mobilizar estudantes para a marcha, esperamos que haja celeridade e compromisso com a resolução das questões", sugeriu.

Um outro activista, Francisco Matias, mais conhecido como Mbanza Hamza, elogiou, à saída do encontro, "um Presidente inteligente, com um nível de sátira muito interessante e que dá muita vontade de debater".

Sobre mais protestos, admitiu que "a necessidade de manifestar está intrinsecamente ligada aos problemas" que se vão encontrando.

"Sempre que for necessário estaremos nas ruas para nos manifestar", prometeu, apelando a que os angolanos sigam mais uma orientação patriótica do que partidária.

"Alternativas há sempre: qualquer um de nós pode governar", atirou.

Sobre a falta de consenso quanto à participação no encontro, havendo activistas que não aceitaram estar presentes e outros que nem sequer foram convidados, Mbanza Hamza referiu-se a más experiências no passado.

"Essa relutância tem um histórico, que se relaciona com a forma como somos tratados e o que significa esse histórico de virmos aqui. Eu, pessoalmente, vim para mudar isso, não significa que estamos vendidos, que fomos corrompidos ou que estamos a trair, vamos manter-nos firmes onde quer que estejamos e estar aqui para expor as nossas questões para serem ouvidas directamente", declarou.

Para o activista esta aproximação dá mais motivos para reclamar caso os problemas não sejam resolvidos. "Isso fundamenta mais a nossa luta do que a enfraquece", vincou.

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