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“Bravura” dos três movimentos foi determinante para a libertação de Angola

O independentista angolano Ernesto Mulato enalteceu a “bravura” dos líderes e demais integrantes dos movimentos de libertação no alcance da independência, afirmando que “apesar de faltar uma visão mais inclusiva do país”, o 11 de Novembro “é dos angolanos”.

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"Devemos reconhecer que esses três mais velhos, aludindo a Agostinho Neto, pelo MPLA, Jonas Savimbi, pela UNITA, e Holden Roberto, pela FNLA, naquela altura foram bravos e outros que se entregaram em todas as circunstâncias, valeu a pena sim a independência", afirmou Ernesto Mulato, em declarações à Lusa.

O político da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), recorda que no 11 de Novembro, Dia da Independência de Angola, proclamada em 1975, ficou acordado em Alvor (acordo assinado, em Janeiro de 1975, entre o Governo português e os três movimentos de libertação de Angola) por sugestão da FNLA.

O dia 11 de Novembro "não é dos três movimentos mas é para os angolanos, é nosso, de todos, porque festejamos nas matas o dia 11 de Novembro". "Então, a luta desses três movimentos contra o colonialismo português valeu a pena, apesar de alguns erros cometidos".

Ernesto Joaquim Mulato, 80 anos, começou a vida política activa, em 1959, tendo na década de 60 militado na UPA (União dos Povos de Angola) movimento que depois emergiu para a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), liderada por Holden Roberto.

Militante da UNITA, desde a década de 1960, recorda que, após os estudos no exterior, regressou ao país em Abril de 1975, na véspera da independência, fez parte de uma comitiva liderada por Jonas Savimbi, líder fundador da UNITA, que a 26 de Abril de 1975 foi recebida em apoteose em Luanda.

"Chegados aqui, Luanda estremeceu, com muito apoio e isso estava a preocupar os outros partidos e de lá para cá começamos já a sentir algumas escaramuças", recorda, realçando que apesar das "várias tentativas de diálogo" a UNITA foi expulsa de Luanda.

"E a partir daí a situação estava já trémula e o que se pensava é o que se poderia fazer se o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) proclamasse a independência e o Dr. Savimbi dizia que se proclamar, vamos continuar a fazer alguma resistência", afirmou.

A independência de Angola foi proclamada em Luanda, em 11 de Novembro de 1975, pelo líder do MPLA, Agostinho. A UNITA, disse Ernesto Mulato, também proclamou nesse dia, na província do Huambo, a independência sem a presença de Jonas Savimbi.

"Nós também no Huambo o fizemos, mas Dr. Savimbi não esteve presente, mas que sabíamos que não tinha pernas para andar, porque aqui era a capital, mas que era apenas um sinal e depois daquilo a situação continuou ainda difícil", notou.

Segundo este antigo vice-presidente da UNITA, "já estava decidido pelos portugueses" que a independência seria entregue ao MPLA, que não podiam fazer oficialmente, e é por isso eles pretenderam o Alvor que foi discutido em menos de um mês".

"Portugal já tinha ideia de passar a independência ao MPLA, através da influência do Partido Comunista Português, mas oficialmente não podiam fazer, mas foi aqui dentro que o fizeram", argumentou.

Apesar das controvérsias da época, adiantou o actual terceiro vice-presidente do parlamento, o 11 de Novembro "valeu a pena", mas, observou, "os objectivos adjacentes dos movimentos, porque é que lutaram para libertar o país, não foram atingidos".

"Alguns foram atingidos, mas a maior parte dos objectivos não. O que faltou foi uma visão mais inclusiva do país, primeiro, sou daqueles que pensa que o erro de nós de Angola, de Moçambique e talvez também um pouco da Guiné-bissau, talvez caíram num erro, que após a independência deveriam definir como governar o país dali para frente", disse.

Olhando para o actual contexto socioeconómico e político de Angola, passados 45 anos do fim do jugo colonial português, Mulato diz que "nada mudou", sobretudo em Luanda, capital do país, com "bairros esburacados, sem estradas e nem urbanização".

Para este nacionalista, natural do município do Bembe, província do Uíge, Angola ainda tem um "longo caminho a percorrer, porque tivemos um sistema de economia centralizada, mas depois entramos para o capitalismo primitivo".

"Então, até hoje não conseguimos fazer algo economicamente para o desenvolvimento do nosso país e tudo isso acontece porque o nosso país não é administrado nos moldes de uma administração administrativa", realçou.

Porque, apontou, "só assim se explica que insistimos que o governador é o primeiro secretário do partido (MPLA), o administrador é o primeiro secretário do partido MPLA). Falta de quadros e dinheiro para pagar esses quadros?", questionou.

Ernesto Mulato considera igualmente que o país precisa de fazer um "trabalho profundo" que "levante a consciência das populações para saber que depois de 45 anos deixemos de fora se houve guerra civil aqui e acolá, mas peguemos de 2002 até cá".

A forma que se governa Angola, acrescentou, "não vai mudar mais, vai ser sempre a mesma, e se tivermos mais outros cinco anos com o MPLA o país está sempre adiado, aqui tem que existir a primeira alternância de partido".

Mulato entende ainda que em Angola, "enquanto não ocorrer a primeira alternância de partido, o país não vai avançar e enquanto membro da UNITA vou continuar a lutar, tal como os outros partidos fazem, para que esta alternância seja com o meu partido".

Ernesto Joaquim Mulato, engenheiro de construção civil, nasceu a 12 Agosto de 1940.

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