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Câmara de Energia Africana: petróleo barato arrisca adiar investimentos em Angola

A Câmara de Energia Africana (CEA) alertou que os preços baixos do petróleo podem originar atrasos na exploração de novos poços em África e particularmente em Angola e defendeu um novo regime fiscal para atrair investidores.

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"A maioria dos projectos que estava pronto para aprovação foi planeado assumindo um preço de 55 a 60 dólares por barril, por isso o facto de o preço rondar actualmente os 40 dólares significa más notícias, principalmente porque as principais decisões de investimento precisam do preço nos 45 dólares para dar lucro ['breakeven'], e alguns até nos 60 dólares", lê-se no relatório sobre Perspectivas da Energia em África.

No relatório da CEA com o apoio técnico da Rystad Energy, enviado esta tarde aos investidores, os especialistas escrevem que "a ENI e a ExxonMobil já disseram que vão focar-se no desenvolvimento de projectos com um preço de 'breakeven' menor que 35 dólares e o desenvolvimento do poço Agogo em Angola enfrenta um adiamento devido ao seu preço de 45 dólares por barril".

Além deste, os poços marginais Palas, Astraea e Juno operados pela BP em Angola podem também "ser adiados devido ao preço relativamente alto de 'breakeven', aos compromissos da BP noutras partes do mundo e à transição energética".

Os atrasos decorrentes da redução da procura mundial de combustíveis devido à pandemia, num contexto de preços já de si reduzidos face à média dos últimos anos, teve um impacto muito significativo nos países exportadores de petróleo, como Angola ou a Guiné Equatorial, que dependem da venda desta matéria-prima para equilibrarem o orçamento e financiarem o desenvolvimento económico.

"A estimativa atual é que os atrasos para estes projectos em África podem implicar uma descida de 200 mil barris na produção diária do continente entre 2021 e 2025", alertam os analistas, vincando que "o impacto pode ser ainda maior a longo prazo, com a produção energética a cair em média perto de 1,1 milhões de barris por dia entre 2026 e 2030".

O documento, que analisa os principais acontecimentos dos últimos meses, com especial destaque nos impactos da pandemia de covid-19 para o setor energético em África, aponta também as reformas necessárias para o continente africano recuperar mais rapidamente e aproveitar o potencial destes recursos naturais.

"Está na altura de reformas fiscais ousadas", defende-se no relatório, que aponta que "a maioria dos produtores africanos percebe os desafios colocados pelos seus atuais regimes fiscais no ambiente atual de preços e está envolvido em aprovar emendas adequadas", exemplificando com a nova legislação na Nigéria e em Angola, os dois maiores produtores da África subsaariana.

Ainda assim, acrescentam, "mudar os regimes fiscais implica novos desafios, causa incerteza, distorce a receita esperada para o Estado, e é difícil acordar em quais os parâmetros fiscais a adoptar".

Apesar destas dificuldades, concluem, "para atrair capital para possíveis projectos no futuro, as nações africanas com recursos petrolíferos têm de adaptar os seus regimes fiscais a um novo modelo de mais oferta e menos procura, porque se não o fizerem isso pode levar a recursos perdidos e projectos perdidos".

No documento, a CEA antecipa uma ligeira quebra na produção de petróleo em Angola, de 1,270 milhões de barris diários, para 1,260 milhões em 2021, e antevê igualmente uma quebra na produção da Guiné Equatorial, de 109 mil barris este ano para 94 mil em 2021, ao contrário do que acontece no gás, que terá uma subida ao equivalente de 102 mil para 106 mil barris diários no próximo ano.

A Câmara de Energia Africana, sediada em Joanesburgo, é uma entidade privada destinada a fomentar o investimento em África, tendo lançado o segundo relatório anual sobre as perspectivas de evolução deste sector no continente.

 

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