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Líder dos industriais acena a portugueses com mercado da SADC

O presidente da Associação Industrial Angolana (AIA) apelou aos empresários portugueses a investir em Angola, lembrando que, com a adesão de Luanda à zona de comércio livre da África Austral, abrem-se as portas a 200 milhões de consumidores.

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Falando aos jornalistas a propósito da visita que o chefe de Estado, João Lourenço, realiza a Portugal entre Quinta-feira e Sábado, José Severino queixou-se de os empresários portugueses verem, "comodamente", Angola como destino das exportações e não de investimento directo, realçando que os riscos são "nenhuns", apesar de existirem alguns "constrangimentos".

"Que [os empresários portugueses] venham investir em Angola, sobretudo em parceria. A nova Lei do investimento Privado ajuda bastante, porque já não há aquele constrangimento, já não há aquele "irritante", nem do milhão de dólares mínimo nem de serem coagidos a ter um sócio angolano", afirmou, em declarações à agência Lusa e à RTP, em Luanda.

José Severino defendeu que o que mais comummente se ouve de preocupações em relação às grandes empresas estrangeiras em Angola é a transferência de dividendos de capitais, "constrangimentos" que estão a ser ultrapassados com as "garantias" já dadas pelo Presidente, João Lourenço, de que Angola "vai cumprir os compromissos internacionais".

O presidente da AIA salientou que a visita de Estado de João Lourenço a Portugal vai permitir comprovar que Angola tem condições para o investimento directo em quase todos os domínios económicos e desdramatizou a questão da transferência dos dividendos para o exterior.

"Precisamos de encontrar um equilíbrio na gestão cambial, importando muito menos bens de consumo, muito menos 'utilities', para termos um diferencial cambial para podermos honrar os nossos compromissos", defendeu.

"Já dissemos ao Governo que a única forma de fazer crescer o PIB e reduzir a pressão sobre a balança comercial, que tem hoje o nível mais baixo dos últimos dez anos - sobretudo as reservas internacionais líquidas -, é a de que, quem é importador, deve estar sujeito a um rácio: importa X e o que é que compra no mercado local", sustentou.

Para José Severino, Portugal tornou-se um "grande exportador para o mercado angolano", mas, na realidade, acrescentou, "não se vê da parte portuguesa transformar esse conhecimento em investimento directo".

"Há ainda uma certa acomodação por parte dos empresários portugueses, que têm muito conhecimento de Angola, nos vários ramos, desde a agricultura, pescas, construção civil, indústria, no geral, mesmo nas novas tecnologias, mas remetem-se a uma posição, grosso modo, de exportadores. Comodamente instalados na sua origem e o mercado aqui a ser pressionado do ponto de vista cambial e sem aumentar o PIB", disse.

Acenando com a entrada de Angola na zona de livre comércio da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), em 2019, José Severino lembrou que, quem não estiver já instalado em Angola, "vai perder mercado", sobretudo o dos fornecedores da República Democrática do Congo, África do Sul, Namíbia e Zâmbia.

"Investir em Angola directamente e não ficar na posição de exportador é o que se pretende", sublinhou, dando os exemplos das áreas da agricultura, indústria, pescas, construção civil, para que Angola possa ter um crescimento mais acelerado, "o que interessa às duas partes".

"Com crescimento mais acelerado, mais emprego, mais consumo, até os exportadores ganham", acrescentou José Severino, dando como exemplo o caso das vias rodoviárias, salientando que os portugueses chegam "normalmente" a Angola para construir estradas, mas não a manutenção, o que "é uma questão de agilidade".

Questionado sobre que expectativas tem com a visita de Estado de João Lourenço a Portugal, José Severino disse que gostaria que o primeiro-ministro português, António Costa, que em Setembro foi a Luanda, "possa trazer mais algumas surpresas".

"[Gostaria que] o primeiro-ministro de Portugal possa fazer outras surpresas e, quem sabe, um novo aumento da linha de crédito para Angola (passou já de 1000 para 1500 milhões de euros), seria muito útil. Não impede que haja novo aumento. E que esse financiamento sirva também as empresas portuguesas já internacionalizadas em Angola, envolvendo o acesso às micro, pequenas e médias empresas", declarou.

Esperando que não voltem a acontecer "novos irritantes" e que, se surgirem, que sejam rapidamente ultrapassados, José Severino defendeu que Portugal tem em Angola "uma grande oportunidade de fazer crescer a sua própria economia".

"Quando Angola importa, Portugal cresce. Quando Angola não importa, Portugal tem as suas dificuldades. O importante é que Portugal seja um parceiro estratégico e esse é um anseio dos nossos cerca de 5000 associados nos diversos sectores da AIA", defendeu.

"[Os riscos são] nenhuns. Sinto que as empresas portuguesas que cá estão sabem desta dificuldade da transferência de dividendos, estão comodamente instaladas, há estabilidade política e social, temos hoje uma sociedade mais dinâmica do ponto de vista das reivindicações sociais, o que é bom, que é para corrigir aquilo que é o paradigma do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder], neste caso o 'corrigir o que está mal'", sustentou.

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