Luís Jimbo, coordenador do Observatório Eleitoral Angolano (Obea), comentou, em declarações à Lusa, a iniciativa da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) de Acusação e Destituição do Presidente da República, João Lourenço, que vai ser apreciada numa sessão plenária extraordinária da Assembleia Nacional de Angola, marcada para este Sábado, às 14 horas locais.
Segundo o académico, a UNITA criou um facto político, para ter proveitos políticos num contexto em que os indicadores de apoio ao Presidente João Lourenço "estão a diminuir internamente no MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola]", partido no poder desde a independência do país, em 1975.
Luís Jimbo salientou que a Constituição determina que o Presidente não pode cumprir um novo mandato e os estatutos internos do MPLA, indicam que o presumível candidato também tem de ter "algum conforto do presidente do partido, ou seja, o MPLA está numa incerteza, politicamente, até 2027".
O coordenador do Obea salientou que a crise interna no MPLA começou com o desgaste provocado pelo combate à corrupção, porque "os 'marimbondos', designação que o Presidente João Lourenço usou para aqueles que cometeram esse crime", têm alguma ligação de familiaridade ou de proximidade a ex-governantes ligados ao partido.
De acordo com Luís Jimbo, esta situação tem vindo a desgastar internamente as relações e as confianças políticas.
A iniciativa da UNITA, argumentou o especialista, além da crise interna no MPLA tem também respaldo social, devido à pobreza, crise económica e recessão.
O analista realçou que a conjuntura política, social e económica que o país vive e os desafios internos do MPLA constituem uma oportunidade para a oposição "enterrar ainda mais" o partido no poder, que, nas eleições de 2022 perdeu a maior praça política, que é Luanda.
"Nestas ocasiões de crise profunda e quando há uma ameaça real da oposição, os grupos tendem a consolidar-se, pode precipitar uma solidariedade para defender o líder, um momento de cerrar fileiras, (...) os militantes do MPLA podem olhar isso como uma ameaça real de terminar com o MPLA, de destituir o seu líder e entrarem numa crise profunda, este é um sentimento natural de grupo, de coesão interna face a uma ameaça externa", alertou.
Luís Jimbo olha para o actual momento como sendo de "maturidade política", marcada ainda pela falta de diálogo, mas sem "um extremo de violência", destacando que sente que o MPLA, por via do parlamento, "tem o sentimento e vontade de aceitar os mecanismos da lei".
No início deste processo, quando a UNITA tornou pública a iniciativa, em Julho passado, houve "uma precipitação", encarando-se a proposta como uma ameaça ao Estado de direito, uma situação que evoluiu, destaca Luís Jimbo.
"Foi uma reacção emocional, mas passado um tempo constata-se no próprio MPLA e nas instituições do poder a vontade de respeitar a lei", vincou.
"Se a lei assim determina vamos seguir a lei (...) isto é que sim, pode iniciar verdadeiramente uma profunda revolução dentro das instituições, dentro do parlamento, e não como temos vindo a assistir nos outros Estados (...) que é na rua que buscam esses avanços da democracia por revoluções, que resultam em mortes", salientou o analista.