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FMI/Encontros: países africanos têm de adoptar medidas para atrair privados

O economista do departamento africano do Fundo Monetário Internacional (FMI) Thibault Lemaire defendeu esta Terça-feira que os países africanos têm de implementar reformas que potenciem o investimento privado com efeitos transformadores no desenvolvimento económico.

: Facebook Ministério das Finanças de Angola
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Lemaire afirmou, em entrevista à Lusa à margem dos Encontros Anuais do FMI e do Banco Mundial, que decorrem esta semana em Marraquexe, que "os governos africanos devem também ter uma reposta ao abrandamento do investimento estrangeiro, implementando políticas que atraiam mais financiamento privado, para combater a percepção de risco muito elevada, apostando em reformas que melhorem o clima de negócios e contrariem o elevado risco macroeconómico".

Coincidindo com a divulgação, esta Terça-feira, pelo FMI da previsão de crescimento para a África subsaariana, revista em baixa para 3,3 por cento este ano e 4 por cento no próximo, face aos 3,6 por cento e 4,2 por cento, respectivamente, previstos em Abril, Lemaire vincou na entrevista que "o que o FMI está a fazer é insistir no tema da crise do financiamento, que inclui a dimensão climática" e que é exacerbada pelo aumento das necessidades de financiamento dos países africanos só para combaterem os efeitos das alterações climáticas.

"Os 100 mil milhões de dólares por ano [acordados pelos países na COP15, em Copenhaga] não são só para África, são para o conjunto dos países em desenvolvimento" disse o economista, um dos autores do relatório sobre as Perspectivas Económicas Regionais da África subsaariana, que será divulgado na Sexta-feira.

Em 2020, o último ano para o qual há dados disponíveis, o conjunto desses países recebeu "83 mil milhões de dólares e, deste valor, um quarto foi para a África subsaariana", destacou.

Este valor, admitiu, "é muito menor que as necessidades de financiamento climático, havendo vários estudos que apontam para que o continente precise de 50 mil milhões de dólares por ano até 2050 para adaptação, e um valor ainda maior para a mitigação" das alterações climáticas.

Questionado sobre como podem os países financiar o desenvolvimento económico quando o próprio financiamento é menor que anteriormente, Lamaire salientou que esta crise de financiamento afecta não só o curto prazo, mas também o longo prazo, e apontou três áreas que podem colmatar este défice.

"Primeiro, um maior uso dos recursos internos do continente, já que as receitas fiscais dos países de baixo rendimento representam apenas 13 por cento do PIB, quando essa média é de 19 por cento nos países em desenvolvimento e de 27 por cento nas economias avançadas; depois, usar a poupança interna que está concentrada no sector informal, e daí a importância da inclusão financeira e do desenvolvimento do sector financeiro, para permitir que a própria poupança interna financie o desenvolvimento", defendeu.

Por último, acrescentou, os governos devem também "melhorar o ambiente de negócios, melhorar a Educação e a governação, o que vai atrair Investimento Directo Estrangeiro, que muitas vezes é direccionado para os recursos naturais e para as indústrias extractivas".

Importante, concluiu, é que este financiamento público seja contracíclico, isto é, seja maior quando a economia abranda, já que o sector privado "costuma ir na mesma direcção dos ciclos económicos".

Questionado sobre as perspectivas do FMI para a África subsaariana, o economista do departamento africano disse que "2023 está a ser um ano bastante difícil para as economias da região", mas salientou que a estimativa é que haja uma recuperação já em 2024.

"Quatro quintos das economias da região vão recuperar em 2024; as condições externas estão a melhorar, a inflação mundial desacelerou bastante, as taxas de juro das economias avançadas vão deixar de aumentar e vemos uma descida nos preços mundiais dos produtos alimentares, o que é muito positivo para as economias do continente", afirmou.

Entre os aspectos positivos, Lamaire elenca também o facto de a dívida pública ter estabilizado nos 60 por cento, apesar de ainda ser elevada, e de o défice orçamental médio estar a descer, o mesmo acontecendo com a inflação.

"São aspectos positivos, mas não podemos ser totalmente optimistas, há ainda problemas para resolver", admitiu, apontando a contracção do financiamento, as elevadas necessidades de financiamento, a queda dos fluxos de investimento na região, a inflação alimentar e a descida dos indicadores de desenvolvimento humano, "que terá repercussões a longo prazo para a prosperidade da região, principalmente para as economias menos diversificadas".

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