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Pesquisador critica Angola por não valorizar potencial hídrico do sudeste

Um pesquisador da National Geographic criticou a “letargia” do Governo angolano na valorização do potencial da "Torre de Água do Sul de África", considerando que o recurso seria uma “arma forte” do país no domínio político, económico e geoestratégico.

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Em declarações à Lusa, o director para o Projecto da Vida Selvagem do Okavango da National Geographic em Angola, Kerllen da Silva Costa, disse que as províncias do Moxico, Cuando-Cubango e Bié, sudeste de Angola, contêm a "Torre de Água do Sul de África".

A "Torre de Água do Sul de África", explicou o pesquisador angolano, é um ponto onde estão quase todas as nascentes de todos os rios que fornecem água para o sul de África, "mas as autoridades angolanas tardam em valorizar o potencial hídrico".

Aludindo a pesquisas realizadas este ano nas referidas províncias, Kerllen afirmou que a zona sudeste foi denominada como "Torre de Água" por existir, na província do Moxico, um perímetro de cerca de 150 mil quilómetros quadrados com nascentes dos rios das principais bacias hidrográficas de África.

Segundo disse, toda a água das bacias hidrográficas do Congo, do Zambeze, do Okavango, do Kwanza e do Cuando nascem neste ponto dentro do Moxico.

"E isso tem implicações de toda a água que é utilizada na Namíbia, Zâmbia, a água que está no Delta do Okavango, que é uma indústria por si só muito grande, vem toda deste ponto", sustentou.

Falando à margem da III Conferência Ambiente e Desenvolvimento, que abordou, em Luanda, "O Impacto dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nos Negócios", o investigador referiu que as autoridades "não têm noção completa" do potencial hidrográfico do país.

Para o membro da National Geographic, o desconhecimento do potencial dos recursos hídricos nacionais, por parte das autoridades, resulta da abordagem que os países da região fazem "ao não reconhecerem que toda a sua água provém desse lugar".

"Acho que estamos numa posição chave em que o nosso Governo tem a oportunidade de segurar nisso como uma arma muito forte a vários níveis económico, político e geoestratégico", realçou.

Um reconhecimento da dependência dessa região dos recursos hídricos provenientes de Angola, colocaria o país numa posição muito importante na "tutela da preservação conjunta da água e do desenvolvimento económico regional", acrescentou.

Kerllen da Silva Costa, licenciado em gestão de recursos naturais e em biogeografia e membro de expedições da National Geographic em Angola, admitiu existir alguma "letargia" das autoridades na valorização deste recurso.

"Porque talvez não olham para isso como uma fonte de rendimento imediato, mas os impactos que isso tem vão durar para gerações", argumentou, defendendo "antecipação" do Governo na abordagem aos países da região que beneficiam da "Torre de Água".

O pesquisador salientou ainda que o objetivo do trabalho que desenvolve com a National Geographic, como expedições em rios, é recolher dados científicos para informar e guiar o Governo "sobre a importância destas nascentes nesta região".

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