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Polícia deteve professor que organizou marcha de alunos para reivindicar carteiras escolares

A polícia deteve um professor que organizou uma marcha de alunos para exigirem novas carteiras numa escola do município de Viana, província de Luanda, informaram esta Sexta-feira as autoridades.

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Segundo o porta-voz do comando provincial de Luanda da Polícia Nacional, Nestor Goubel, o professor liderou uma marcha de aproximadamente 300 alunos, com o objectivo de chegarem à repartição de educação de Viana, "para reclamar contra a falta de carteiras, para acomodação dos alunos".

Tendo em conta a situação, "a polícia foi accionada pela direcção da escola, na pessoa do director, João Paulo de Oliveira, (segundo o qual), antes da saída da escola, por instigação do próprio professor, já haviam danificado cerca de 50 carteiras", disse.

Nestor Goubel frisou que o professor é acusado de organizar uma marcha não autorizada e do crime de danos materiais, avaliados em 1,7 milhões de kwanzas.

"Cada carteira tem o preço unitário de 35 mil kwanzas, o que perfaz um global de 1,750 milhões de kwanzas", sublinhou o porta-voz da Polícia de Luanda.

Informações que circularam nas redes sociais sobre o caso davam conta que a polícia fez disparos para dispersar os manifestantes.

Em declarações à agência Lusa, Nestor Goubel disse que foi aberto um inquérito para se apurar a veracidade desta informação e "vão ser assacadas responsabilidades".

"Em princípio, parece que o professor mostrou resistência. Ele levou meninos de 12, 15 anos, para essa manifestação, com todas as consequências, barraram estradas, parecia que estava a cumprir uma outra agenda", frisou.

Segundo o porta-voz da Polícia de Luanda, o professor tem apenas 15 dias de trabalho na instituição "e já se propõe a realizar uma marcha".

"Quando a polícia é solicitada para intervir, ele colocou uma série de obstáculos, quase que afrontou a polícia em cenas de desacato, mas foi aberto um inquérito para saber até que ponto é que isto confere com a verdade dos factos", realçou.

Sindicato de Professores considera reivindicação de carteiras "justa", mas precipitada

O Sindicato de Professores disse esta Sexta-feira que é "justa" a reivindicação do professor que foi detido por, alegadamente, ter organizado uma marcha de alunos para reivindicar mais carteiras para a escola, embora admitindo que a acção foi precipitada.

Segundo o delegado provincial de Luanda do Sinprof, Fernando Laureano, foram ouvidos professores, pessoal da secretaria e alunos, tendo a direcção da escola garantido que desconhecia a organização da marcha.

"Quase todos eles desconheciam a preparação da referida marcha", disse à Lusa Fernando Laureano, acrescentando que o representante do Sinprof local foi igualmente surpreendido com a notícia.

Fernando Laureano dá razão ao docente, mas diz que a reivindicação não foi feita da melhor forma.

"É verdade que o colega alega a questão das carteiras, a escola não tem mesmo carteiras suficientes. As turmas estão com cerca de 70 a 80 alunos e o colega achou que poderia reivindicar só que reivindicou de forma errada, porque se ele nos participasse o caso seria diferente", frisou.

O sindicalista sublinhou que a liberdade de manifestação consta na Constituição da República, "mas tem os seus critérios".

"O colega não os cumpriu, com a agravante de levar crianças para a manifestação, sem a autorização dos encarregados de educação. Nesta mesma marcha do que me apercebi, e a polícia nega, é que houve tiroteio para dispersão e as crianças ficaram expostas ao perigo", observou.

Fernando Laureano disse que tiveram um encontro com o comandante da polícia da esquadra que se situa ao lado da escola 5108, em Viana, segundo o qual o acusado seria ouvido esta Sexta-feira pelo Ministério Público.

Para apoiar o professor, o Sinprof e o Movimento de Estudantes Angolanos (MEA) juntaram-se e constituíram um advogado, adiantou Fernando Laureano.

Fernando Laureano reiterou que a reivindicação é justa, pecando apenas pela forma como foi organizada, frisando que uma boa parte das escolas da capital não têm carteiras.

"E se têm são carteiras insuficientes para albergar o número de alunos por turmas, nós temos essa insuficiência e, aliás, isso consta do nosso caderno reivindicativo a nível da província de Luanda", frisou.

De acordo com o delegado provincial de Luanda do Sinprof, as autoridades dizem que as escolas estão a ser apetrechadas de forma gradual, mas o ritmo é lento.

Daqui a duas semanas, adiantou, vão reunir-se com a nova directora provincial de Luanda "para fazer o rescaldo sobre os problemas que Luanda está a viver".

O delegado provincial de Luanda do Sinprof disse que a lista de problemas é grande, enumerando também deficiências no funcionamento das casas-de-banho nas escolas e problemas de iluminação, que afectam os alunos do período nocturno, "para não falar na remuneração dos professores".

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