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BAD já emprestou três mil milhões de dólares a Angola e quer financiar sector privado

O Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) investiu cerca de três mil milhões de dólares no sector público em Angola, dos quais um terço em projectos ainda em curso, e quer captar o sector privado para esta fonte de financiamento.

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Em entrevista à agência Lusa, o representante do BAD em Angola, Pietro Toigo, revelou que a actividade do BAD em Angola aumentou significativamente na última década, sobretudo nos últimos cinco anos, mas por enquanto apenas com projectos do sector público.

Angola aderiu ao Banco Africano de Desenvolvimento na década de 1980 e desde essa altura a instituição financeira investiu cerca de três mil milhões de dólares no país, tendo sido aprovados 53 empréstimos e doações.

Um terço deste montante é relativo a 11 projectos actualmente em fase de implementação, com destaque para o sector da energia, que absorve 50 por cento do total.

O restante distribui-se entre agricultura (cerca de 12 por cento), água e saneamento (12 por cento), finanças (12 por cento) e social (9 por cento) e multissectores.

O BAD está a preparar a próxima estratégia para Angola, cobrindo o período 2024-2028, e deverá apresentar o próximo ciclo de financiamento entre Julho e Setembro de 2023.

O financiamento dos projectos, explicou Pietro Toigo, depende da avaliação da capacidade de empréstimo ao país e do diálogo com as instituições angolanas, no âmbito do qual será definida a estratégia a seguir e os sectores prioritários para o desenvolvimento do país, tendo também em conta as prioridades do BAD em África: industrialização, integração regional, transformação agrícola, melhoria da qualidade de vida e acesso universal à electricidade.

Os projectos são desenvolvidos em conjunto com os peritos do banco, sendo posteriormente apresentados perante o conselho de administração onde estão representados os 81 accionistas da instituição financeira, incluindo 54 países africanos e 27 não-africanos.

O valor do financiamento tem como base a classificação do país (no caso de Angola, um país de médio rendimento) e as taxas interbancárias variáveis, sendo aplicadas condições mais favoráveis do que nos mercados.

"Somos um banco 'AAA' e o nosso custo de financiamento é muito mais baixo do que o dos bancos comerciais. Os empréstimos têm também melhores condições no que diz respeito ao prazo de financiamento que, no caso do sector público, é de 20 a 25 anos com períodos de carência de quatro a cinco anos", salientou o responsável.

Questionado sobre o alinhamento com a visão do governo angolano sobre a diversificação económica e a aposta na agricultura, Pietro Toigo afirmou que Angola "tem uma vantagem comparativa muito forte no sector agrícola", assinalando que a agricultura pode potenciar também o desenvolvimento industrial, as infra-estruturas rodoviárias e o acesso à energia.

Sem projectos do sector privado na carteira, o representante do BAD acredita que, no futuro, estes vão ser desenvolvidos em Angola.

"Até agora o BAD financiou apenas projectos públicos, o que se justifica por vários factores, desde logo o facto de historicamente a economia angolana ser pouco diversificada e estar assente sobretudo no petróleo", justificou.

Muitos dos investimentos que atraem tipicamente um banco de desenvolvimento eram financiadas pelo Orçamento Geral do Estado, mas Pietro Toigo afirma que se está a assistir a uma mudança de abordagem, "no sentido em que o Governo está a aumentar a proporção de PPP [Parcerias Público-Privadas] na economia angolana para atrair capital privado e, sobretudo, capacidade de gestão de projectos do sector privado".

Considerou, por outro lado, que o sector privado ainda não olha para Angola como um destino prioritário de investimento em África, fora do sector petrolífero.

"A nossa tarefa como banco e desenvolvimento é também promover estas oportunidades e construir a capacidade do Estado e dos privados angolanos para desenvolver este tipo de projectos", comentou.

Salientou, no entanto, que se trata de projectos complexos e que supõem um investimento mínimo de 30 milhões de dólares, já que o banco financia até um terço do valor do projecto, no caso, 10 milhões de dólares.

Pietro Toigo sublinhou ainda que para preservar o seu 'rating' de triplo A, o banco faz uma avaliação de riscos apertada.

"Isso supõe escolher, normalmente, operadores que já têm experiência no sector e que possam demonstrar que têm capacidade de gerir o projecto de forma sustentável. Nesse sentido, estamos a procurar soluções para a economia angolana, envolvendo, por exemplo, parcerias com instituições de crédito locais, que podem assumir algum risco mais elevado", adiantou.

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