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Rafael Marques: movimentos que reivindicam independência das Lundas não têm legitimidade

O activista e jornalista angolano Rafael Marques defende que os movimentos que reivindicam a autonomia das províncias das Lundas não têm qualquer legitimidade e não trazem benefícios às populações locais.

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Rafael Marques de Morais falou à Lusa a propósito do lançamento do seu livro "Magia e Miséria: Revolta em Cafunfo", uma investigação sobre os incidentes trágicos de 30 de Janeiro, em que várias pessoas morreram durante confrontos com a polícia numa manifestação organizada pelo Movimento do Protectorado Português da Lunda Tchokwe (MPPLT).

"Não assiste aos líderes do movimento qualquer legitimidade, do ponto de vista histórico, para reclamar a independência das Lundas (províncias do norte de Angola). Nunca houve um reino Lunda Tchokwe, houve sim um reino Lunda que foi destruído por agressão pelos Tchokwe", justificou.

A destruição da capital do reino Lunda ocorre com a penetração colonial, coincidindo com a chegada de Henrique Carvalho, o enviado português à corte Lunda, que celebra a 2 de Setembro de 1886 o que Rafael Marques descreve como "tratados fictícios" que não foram assinados nem validados pelo então rei Lunda, Xá Madiamba.

"Todos esses líderes são Tchokwe, não são Lunda. São os descendentes dos invasores que agora reclamam a legitimidade de ser herdeiros legítimos do reino que eles destruíram, não faz sentido absolutamente nenhum", salientou o jornalista em entrevista à Lusa.

Para Rafael Marques, "a grande responsabilidade é do governo do MPLA que nunca se preocupou com a história e sempre adulterou também, de uma certa maneira, para benefício próprio, a história de Angola".

A independência das províncias da Lunda Norte e Lunda Sul é reclamada por duas organizações: o MPPLT, que promoveu a manifestação em que morreram mais de uma dezena de pessoas, liderado por Zecamutchima (actualmente preso); e o Manifesto Jurídico Sociológico do Povo Lunda-Tchokwé, de Jota Filipe Malakito.

No livro que analisa os acontecimentos de 30 de Janeiro que vai ser lançado na Segunda-feira em Cafunfo, Rafael Marques usa o enquadramento histórico para refutar estas pretensões, concluindo: "Em finais do século XIX, os Tchokwe invadiram os Lunda, terminando com o seu antigo reino. A parti daí, o que existe são construções ou reconstruções efectuadas pelo poder colonial a fim de garantir seu domínio".

Na obra faz também referencia às dificuldades que encontrou quando fazia investigação no terreno e que lhe foram colocadas pelos líderes do MPPLT.

Aponta em concreto a "extraordinária rede de informantes, intrigas, desinformação e calúnias" que o secretário geral do MPPLT, Fernando Muaco conseguiu gerir em Cafunfo, com apoio de políticos da oposição e activistas sociais para "impedir a todo o custo a continuidade da investigação"

O jornalista e activista sublinha, por outro lado, que "em circunstância alguma as comunidades locais encontram alívio ou esperança no MPPLT e que as manifestações que tem sido organizadas pelo Movimento ignoram as reivindicações elementares da população sobre a falta de empregos, o estado das estradas, a questão das ravinas, etc."

No dia 30 de Janeiro, confrontos entre a polícia e manifestantes do MPPLT deixaram em Cafunfo, uma vila mineira da Lunda Norte, rica em diamantes, mas com elevados níveis de pobreza, um número indeterminado de mortos.

Rafael Marques estima que terão morrido 13 pessoas, enquanto os números oficiais apontam para 6 mortos e membros da comunidade local ouvidos na altura dos incidentes contabilizaram mais de 20 vítimas.

As versões divergiram também quanto aos objectivos da marcha, entre os que garantem que se tratava de uma manifestação pacífica e o relato das autoridades angolanas que descreve uma tentativa de invasão da esquadra local e um atentado contra a soberania de Angola.

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