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“Aplausos e lamentações” na saída de imigrantes ilegais do país

Entre "aplausos e lamentações", a saída de imigrantes ilegais em Angola alterou hábitos e costumes, sobretudo na província da Luanda Norte, com "melhor fluidez" na circulação rodoviária e "fraca procura de produtos" na zona fronteiriça com a RDCongo.

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A situação foi constatada pela agência Lusa nos municípios do Dundo, Lucapa e Chitato, afectos à província da Lunda Norte, zona nordeste de Angola, uma daquelas em que decorre a "Operação Transparência", de "combate à imigração e exploração ilegal de diamantes".

O intenso movimento de pessoas e bens que se registava anteriormente no posto de fronteira do Chissanda, no município do Chitato, linha limítrofe entre Angola e a República Democrática do Congo (RDCongo), faz, assim, agora, "parte do passado".

Na sequência da saída de mais de 380.000 cidadãos estrangeiros, na maioria da RDCongo, no local, a circulação e afluência de pessoas baixou consideravelmente, registando-se de forma tímida a circulação de motorizadas transportando haveres de congoleses para a fronteira.

Sem condições financeiras para alugar uma motorizada de três rodas ou "kupapatas", como vulgarmente são conhecidas em Angola, andar a pé e transportar os pertences à cabeça para chegar do outro lado da fronteira é opção de muitos congoleses, conforme observou a Lusa.

Mas o transpor da fronteira para o lado do RDCongo não pressupõe, para muitos "imigrantes ilegais", o regresso definitivo ao país de origem, pois muitos preferem "passar fome e dormir ao relento" na zona fronteiriça em busca de meios de subsistência, apesar da pressão policial.

"Habituámo-nos com os angolanos. Viemos para aqui porque não temos para onde ir. Lá [na RDC] os nossos pais foram mortos e não sabemos onde e como viver", disse o congolês João Fidel, na fronteira do Chissanda.

Muitos congoleses que se dedicavam à "prospecção ilegal de diamantes" relataram à Lusa que continuam a enfrentar dificuldades de vária ordem, sem quaisquer condições para regressar ao seu país, preferindo permanecer na fronteira.

Outro congolês, Francisco Pedro Kandala, "estacionado" igualmente naquela zona fronteiriça, considerou crítica a sua situação, depois de ter sido "expulso" do Dundo, capital da Lunda Norte, onde vivia com o irmão.

"A situação aqui está complicada. Mandaram-nos abandonar Angola e estamos na fronteira a sofrer. Mesmo [cidadãos] angolanos também estão a ser expulsos, o meu irmão está a sofrer", disse.

"Dupla pressão", ou seja, das autoridades angolanas, no quadro da operação policial, iniciada a 25 de Setembro, e das congolesas, depois da fronteira, situação relatada por Maiskuar Mulamba, que decidiu estabelecer-se no local fazendo "biscates".

"Estamos aqui a trabalhar, a levar as coisas que vão para a RDCongo, mas o ‘Chacal' (forças de segurança da RDC) está a complicar a situação, a pressionar quem está a trabalhar. E ainda batem", lamentou.

As comerciantes do lado de Angola afirmam que as vendas registam quedas significativas dia após dia, cenário que se regista, dizem, desde que se iniciou o repatriamento de cidadãos estrangeiros.

Luísa Kuanco, cidadã angolana, contou à Lusa que a saída de estrangeiros, entre comerciantes e compradores, reduziu as vendas no local, argumentando estar com "saudades" do intenso movimento de outrora.

"Na fronteira está bom, sobretudo, juntando angolanos e congoleses. Mas, mesmo assim, não estamos a vender bem, não temos clientes e os que existem não compram porque não há dinheiro", realçou.

Por sua vez, Sherif Mohamed Naava, um dos líderes da comunidade mauritana residente na Lunda Norte, aplaudiu a iniciativa do Governo angolano, referindo que alguns dos seus compatriotas também tiveram de regressar para legalizar a sua situação.

"Tivemos uma palestra conjunta [Governo e comunidade] e chegámos a um consenso. Os que neste momento estão ilegais têm uma abertura para voltar de forma digna ao país", disse.

Sherif Mohamed Naava disse ainda ter registado "casos esporádicos" de agressões de alguns efectivos angolanos da ordem e segurança contra imigrantes ilegais e que "depois foram corrigidos".

"Houve casos isolados e, quando os encaminhámos, as autoridades rapidamente reagiram muito bem e os casos foram tratados e corrigidos. Foram casos isolados em que alguns polícias sem autorização da chefia praticaram acções por conta própria", apontou.

As melhorias na circulação rodoviária na província, na sequência do "regresso voluntário de cidadãos estrangeiros", também foi assinalada à Lusa por um efectivo da polícia angolana durante a viagem entre o Dundo e o município do Lucapa.

A operação, que decorre nas províncias da Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico, Bié, Malanje, Cuando-Cubango, Uíje e Zaire, visa "somente repor a legalidade no que respeita à comercialização de diamantes e normalizar a circulação de pessoas e bens", asseguram as autoridades.

No Sábado, o ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente angolano, Pedro Sebastião, disse em conferência de imprensa que "são completamente falsas" as afirmações sobre "massacres, sevícias e violações" praticadas por autoridades ou populares a imigrantes ilegais.

Segundo as autoridades angolanas, mais de 380.000 cidadãos estrangeiros "regressaram voluntariamente" aos seus países.

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