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Chineses criticam ajuda financeira da China a África e podem mudar regras

As críticas internas que se ouvem na China ao programa de ajuda financeira internacional podem vir a afectar os países africanos que beneficiam de financiamento chinês, como Angola, segundo uma análise do instituto norte-americano Brookings.

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"Os chineses com acesso à Internet questionam publicamente e desafiam a legitimidade e a lógica de grandes acções de ajuda internacional, e o Diário Popular até afirmou que 'algumas pessoas têm diferentes visões sobre a decisão da China de perdoar dívidas externas', pelo que as críticas inesperadas têm o potencial de ter implicações importantes para o trabalho de ajuda externa em África", escreve a analista Yun Sun.

A nota de análise lembra que "durante a visita às Nações Unidas no mês passado, o Presidente chinês, Xi Jinping, comprometeu-se com grandes planos de ajuda externas", e enuncia os 2 mil milhões de dólares para o Fundo de Assistência de Cooperação Sul-Sul, os 100 milhões em apoio militar à União Africana, e ainda os mil milhões para o fundo de "paz e desenvolvimento" das Nações Unidas, para além de anunciar um perdão de dívida às nações menos desenvolvidas, que não identificou.

África, escreve a analista do Instituto Brookings, um dos mais reputados centros de pesquisa norte-americanos, "deve vir a beneficiar fortemente destes novos pacotes", já que "o continente tem sido tradicionalmente um parceiro prioritário no plano de cooperação Sul-Sul", e é nesta região que estão algumas das reuniões mais pobres do mundo.

O problema, sublinha, é que o plano anunciado pelo Presidente chinês não é consensual num país de enormes contrastes, que apesar de ser a segunda maior economia mundial, continua classificado como país em desenvolvimento e tinha em 2014 mais de 82 milhões de pessoas a viver na pobreza.

"A máquina de propaganda chinesa lançou uma campanha feroz para defender as práticas de Pequim sobre ajuda externa, citando benefícios políticos e económicos associados à ajuda aos países estrangeiros, incluindo a imagem externa da China, as boas relações com os países receptores e as oportunidades para as exportações das empresas chinesas", escreve Yun Sun, notando, no entanto, que muitos destes benefícios não podem ser discutidos ou promovidos publicamente por causa dos "fortes contrafeitos", na expressão usada pelo diário oficial chinês Global Times.

A ajuda, diz a analista, "não é mesmo nada altruísta", argumentando que a ajuda serve, na verdade, para "cimentar relações políticas e facilitar a agenda política chinesa nos fóruns internacionais multilaterais", e lembra que o próprio Presidente já disse que a ajuda tem de ser vista no contexto dos benefícios estratégicos e políticos e não nos pequenos cálculos económicos imediatos.

A ajuda ligada, que obriga os países a contratarem empresas chinesas para executarem os projectos financiados pela China, ajuda a promover as empresas e as exportações chinesas, e o perdão de dívida de mais ou menos 3 mil milhões de dólares é largamente contrabalançado pelos 70,8 mil milhões de dólares em contratos assinados em 2014, escreve-se na página do Instituto Brookings na Internet.

Para já, continua o artigo, há dois efeitos para África: por um lado, o continente deve enfrentar uma supervisão mais apertada e mais profunda sobre a ajuda externa que a China disponibiliza, "potencialmente afectando a capacidade e a flexibilidade de Pequim dispensar ajuda", o que resultaria numa preferência por empréstimos concessionais em vez de empréstimos a fundo perdido.

Por outro lado, o escrutínio doméstico ao financiamento de projectos em África vai acabar por trazer mais transparência e responsabilização às operações de ajuda, que são actualmente "opacas", o que pode ajudar à convergência com o modelo de ajuda ocidental, sujeito a mais regulamentos e procedimentos e, portanto, maior controlo político e público.

Em 2014, os investimentos e ajudas da China a África bateram a barreira dos 200 mil milhões de dólares. Angola é um dos principais parceiros chineses na região: a China compra a Angola cerca de 15 por cento do petróleo importado do exterior, e a China é o maior cliente da exportação petrolífera angolana, sendo responsável por mais de 50 por cento das compras.

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