Ver Angola

Construção

Novas ferrovias custaram mais de quatro mil milhões mas têm "enorme impacto" na economia

Angola gastou mais de 4,3 mil milhões de dólares para recuperar as linhas de caminho de ferro e aproveitar o "enorme impacto" que a ligação ferroviária entre o litoral e o interior do país pode ter na economia.

:

De acordo com uma nota da Economist Intelligence Unit (EIU), a unidade de análise económica da revista britânica The Economist, a ligação "abre o interior do país ao comércio, permitindo a Angola restabelecer-se como um corredor de transporte para a exportação de matérias-primas da República Democrática do Congo e da Zâmbia".

A obra ficou a cargo da China Railway Construction, uma das maiores empresas chinesas neste sector, e é mais um exemplo da importância que as grandes empresas chinesas têm na reconstrução de Angola.

O analista e director adjunto da consultora Eaglestone, Tiago Dionísio, lembrou que "a renovação do Caminho de Ferro de Benguela (CFB), que foi concluída no início de 2015 e que tem uma extensão de 1344 quilómetros, permite ligar o litoral de Angola (junto do oceano Atlântico) ao interior do país".

Além da ligação até ao Luau, "Angola fica também com um sistema ferroviário até à República Democrática do Congo e a Zâmbia, que permite depois estender a ligação até Moçambique, Tanzânia e África do Sul, todos eles localizados juntos do oceano Índico", referiu.

No contexto da renovação das infra-estruturas, Tiago Dionísio sublinhou também à Lusa "a plataforma logística do Porto do Lobito, o maior de Angola, que tem sofrido várias obras de ampliação e renovação ao longo dos últimos anos e que tem actualmente um terminal de contentores e outro terminal de minérios, estando também em curso a construção de um cais para navios de cruzeiro e iates".

Assim, concluiu, "Angola fica com uma infra-estrutura ferroviária e portuária muito relevante na região, que deverá trazer grandes vantagens a nível de transporte de passageiros e, acima de tudo, do comércio transcontinental e intercontinental, nomeadamente para a Europa, podendo inclusive trazer importantes receitas para o Estado angolano".

O analista considerou ainda que, com estas alterações, "o país melhora também a sua competitividade através de mais investimento privado e poderá potenciar a prazo o comércio de produtos 'Made in Angola'".

Só a desminagem dos 1344 quilómetros do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), recorrendo a 1300 especialistas, custou 4,8 milhões de dólares, de acordo com os números divulgados pelo Governo.

A ligação entre os dois extremos, Lobito (Benguela) e Luau (Moxico), foi interrompida em 1983 devido à destruição provocada pela guerra civil, sendo agora retomado após um investimento na reabilitação da linha avaliado em 1,83 mil milhões de dólares.

Ao longo de seis anos, antecipando a obra de reabilitação da linha, cerca de 1.300 especialistas de quatro empresas públicas angolanas da área da desminagem realizaram as operações de segurança do traçado.

Durante este processo, de acordo com informação do ministro da Assistência e Reinserção Social, João Baptista Kussumua, sobretudo com recurso a trabalho manual, foram retirados do traçado entre Lobito e Luau cerca de 12 mil engenhos explosivos não detonados e mais de 11 mil minas antipessoais.

Segundo o ministro, que é também coordenador da comissão interministerial para a desminagem, registaram-se durante estes trabalhos nove acidentes, que provocaram três mortos e 14 feridos entre os especialistas que trabalhavam no terreno.

Estes trabalhos, que se iniciaram após o fim da guerra civil, em 2002, foram, de acordo com João Baptista Kussumua, citado pela rádio pública de Angola, “complexos” devido à impossibilidade de utilização de meios electrónicos, pela presença dos carris ferroviários. Por esse motivo, foram “levantadas” mais de 1,9 milhões de travessas ferroviárias, de forma manual, para confirmar a ausência total de engenhos explosivos.

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.