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Alves da Rocha fala em desigualdades sociais “aberrantes e indignas” após duas décadas de paz

O economista Alves da Rocha disse que as desigualdades sociais em Angola são “aberrantes e indignas” e relevou que entre 2014 e 2021 se perderam 326 dólares por ano de rendimento médio por habitante no país.

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Aludindo aos relatórios da missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da fundamentação do Orçamento Geral do Estado (OGE) angolano nesse período de oito anos, o economista sinalizou que entre 2017 e 2021 a perda foi de 315 dólares anuais por cada cidadão.

Os dados de base, retirados das referidas fontes, às quais se pode juntar as Contas Nacionais, observa Alves da Rocha, apontam para uma “degradação crescente” das condições gerais de vida dos angolanos.

A análise feita pelo também director do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (UCAN) foi apresentada no 2.º Ciclo de Debates: O Dividendo da Paz em Angola: Os indicadores económicos, políticos e cívicos antes de 2002 e agora.

Nesta sessão de debates, promovidos pelo Grupo de Reflexão, Aconselhamento e Debate (GRAD) do Laboratório de Ciências Sociais e Humanidades da UCAN, o economista falou sobre “A Paz e Reconciliação Nacional”.

Angola celebrou este ano, a 4 de Abril passado, 21 anos de paz e reconciliação nacional, após o fim do conflito armado em 2002.

Para Alves da Rocha, a paz é um bem público, pertence ao povo e a melhor comemoração da paz é a melhoria das suas condições de vida, “sistematicamente degradadas desde há muitos anos a esta parte”.

“Caviar e lagosta – nas opíparas refeições oferecidas pela burguesia nacional – contrastam com o funje de mistura sem conduto (só de água, sal e gindungo) em mais de 90 por cento das famílias angolanos”, afirmou.

O economista vincou que as desigualdades sociais no país “são aberrantes e indignas dos preceitos da nossa Constituição”.

“Devemos ter vergonha do quadro societário desequilibrado existente onde campeia a pobreza, a fome e a marginalização. É indigno comemorar-se os anos de paz com tanta criança nas ruas a pedir um pão para comer”, lamentou.

No entender do economista, a ausência de guerra “é importante e inestimável mesmo”, contudo, a ausência de acções armadas não significa paz, “apenas novas condições para o acontecer do desenvolvimento” e do progresso, “os únicos e determinantes fatores de unidade e reconciliação nacional”.

Segundo Alves da Rocha, no texto apresentado no encontro pela coordenadora do GRAD, Cesaltina Abreu, a ausência de guerra “é um ganho substancial, mas o seu aproveitamento tem sido defeituoso e acintoso” já que não resultou em “melhorias visíveis nas condições de vida da maioria da população”.

A “intensa dinâmica” de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 2003 e 2008 "(cerca de 10,7 por cento ao ano, podendo ser duplicado em menos de sete anos), um dividendo material efectivo da paz", realçou, foi canalizada para o processo de acumulação primitiva de capital e de criação de uma burguesia nacional endinheirada".

Esse, apontou, era o período propício para se ter operado uma alteração do modelo de distribuição do rendimento nacional a favor do combate contra a pobreza e que teria preparado o país para uma “maior resistência às intempéries das quedas do preço do petróleo”.

Alves da Rocha defendeu ainda que a reconciliação nacional “só será efectiva” com uma “base económica segura (espalhar-se dentro de critérios de racionalidade, estruturas produtivas e económicas), crescimento sustentável e acesso a oportunidades de enriquecimento”.

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