Ver Angola

Política

Ex-conselheiro do PR critica militares na rua e desvaloriza o risco de “banho de sangue”

O ex-conselheiro do Presidente, Fernando Pacheco, desvalorizou esta Quinta-feira o risco de um "banho de sangue" após as eleições, invocados pela oposição para não fazer acções de rua, mas criticou a presença de militares na rua.

:

"De um modo geral, os actores políticos foram sempre manifestando que, fosse qual fosse o resultado, o desejo de paz era sincero e mútuo", pelo que "compreendo que o presidente da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) estivesse preocupado com o facto de haver franjas da sociedade a reclamarem posicionamentos mais radicais", disse à Lusa.

O ex-membro do Conselho da República, durante primeiro mandato de João Lourenço, considerou, no entanto, que nunca compreendeu a presença considerável de meios das Forças Armadas Angolanas (FAA) nas ruas, após as eleições.

"Posso entender a presença da polícia, mas já não posso entender a presença de militares na rua, acho que houve um posicionamento errado por parte das FAA e possivelmente de quem dirige as FAA", sublinhou.

O presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) disse, no Sábado passado, que "o preço do poder não vale tudo, não vale o banho de sangue do povo", em resposta aos que tencionavam ver o partido na rua para conquistar as instituições.

Adalberto Costa Júnior, que discursava no final de uma marcha promovida, em Luanda, pelo seu partido, em prol da "esperança, liberdade e despartidarização das instituições", disse que o "povo sabe quem venceu as eleições".

O presidente da UNITA referiu que o seu partido e parceiros foram pressionados a saírem à rua para conquistar as instituições, após a publicação oficial dos resultados das eleições, que deram vitória ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

No entanto, o activista Osvaldo Caholo, considera que o "receio" da UNITA em sair à rua após as eleições, para "evitar um banho de sangue, uma possível insurreição ou desobediência civil", traduz-se na "conivência" para com o sofrimento dos angolanos.

"Quando Adalberto Costa Júnior diz que o alcance do poder não deve valer um banho de sangue do seu povo, na verdade ele está a querer dizer que o MPLA jamais sairá do poder, porque em 2027 o MPLA vai fraudar as eleições novamente", disse à Lusa.

"Revela cobardia e também acorda o povo de que a UNITA nunca fará nada para reverter o quadro e simplesmente é o povo, se o alcance do poder político não vale um banho de sangue em 2027 o MPLA vai meter novamente as tropas na rua", frisou.

Para o conhecido activista do processo 15+2, da era de José Eduardo dos Santos, a UNITA e o seu líder mostram estar coniventes com a má gestão do país.

"Isso acarreta vidas, quer dizer não se concorda com um banho de sangue do género de uma desobediência civil, mas se concorda com banho de sangue por via de terrorismo de Estado, ou seja, da desgovernação. Quantas pessoas dão entrada aos cemitérios? Os cemitérios recebem cerca de 100 caixões por dia", criticou.

Caholo, acrescentou: "O povo angolano deve perceber que o MPLA finge ser democrata, a oposição finge ser oposição e a única que não é fingimento é o sofrimento do povo".

Por outro lado, Fernando Pacheco, conhecido engenheiro agrónomo angolano e actor da sociedade civil, valorizou a presença da UNITA no parlamento, onde elegeu 90 deputados, e no Conselho da República, considerando que a decisão foi a correcta.

"Mas, acho que a integração da UNITA foi salutar, na medida em que impede que se entre numa crise de ordem política, creio que neste aspecto a UNITA fez aquilo que deveria fazer", notou.

O parlamento "é um espaço importante de luta política", observou Fernando Pacheco, lamentando que, ao logo destes anos, isso nem sempre tenha acontecido, sobretudo por "falta de uma cultura democrática desenvolvida no nosso país"

Segundo o também membro do Observatório Político e Social de Angola (OPSA), o país tem necessidade de ter outros espaços de luta política, não apenas no parlamento ou na rua, mas sobretudo na comunicação social, "que ainda não cumpre o seu papel".

"Infelizmente, no nosso país, fruto desse défice democrático que ainda temos, a comunicação social não cumpre o seu papel, não desenvolve actividades que permitam o contraditório, o debate, a troca de ideias, essa é uma luta que todas as forças políticas e sociais do país devem manter", defendeu.

Pacheco saudou também alguma melhoria, que diz notar, nos órgãos de comunicação, sobretudo públicos, que "promovem alguns debates", admitiu que o novo mandato governamental deverá enfrentar momentos difíceis e lamentou ainda o baixo nível da diversificação da economia e o alto nível de desemprego.

"Nós precisamos, não apenas de bons projectos, mas de capacidade para implementar esses projectos e infelizmente continuamos a ouvir dizer que vamos fazer projectos e quando se fala de projectos, fala-se principalmente do betão, e oiço falar muito pouco de melhoria e reforço das capacidades institucionais", concluiu.

Relacionado

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.