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UNITA deve utilizar potencial de mobilização para forçar eleições locais, considera economista

A economista e ex-quadro da UNITA Fátima Roque sugere que o seu antigo partido deve utilizar o seu potencial de mobilização para extrair concessões do MPLA e pressionar o Governo a permitir eleições locais.

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Em declarações ao Institute for Securities Studies (ISS) - organização africana sem fins lucrativos com sede em Pretória, na África do Sul – Roque prevê que, num cenário em que a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) esgote todos os recursos jurídicos para a reversão dos resultados das eleições do passado dia 24 anunciados pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE) e decida "marchar sobre o palácio presidencial", os seus apoiantes seriam "recebidos com violência... e não com balas de borracha... munições vivas, e isso é o que todos querem evitar".

Em alternativa, a UNITA deverá utilizar o seu potencial de mobilização como moeda de troca para obter concessões do MPLA. O principal objectivo é pressionar o Governo a permitir eleições locais, particularmente em Luanda, escreve o ISS, referindo-se a afirmações da especialista angolana, em tempos muito próxima do líder histórico da UNITA, Jonas Savimbi.

A Constituição prevê estas eleições, e a UNITA exige-as desde o fim da guerra civil. "Mas há 20 anos que o MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola] tem vindo a arrastar os pés", afirmou Roque.

As eleições locais poderiam permitir à oposição traduzir uma vitória simbólica na capital obtida no passado dia 24 em poder real - mesmo que apenas ao nível municipal - e demonstrar a sua capacidade de governar. O mesmo poderia aplicar-se a outras cidades, explicou.

Borges Nhamirre, um consultor do ISS citado no artigo assinado por Peter Fabricius, outro consultor da organização, manifesta-se céptico quanto à UNITA ganhar esse "prémio de consolação", e acredita que, se as eleições locais se realizassem, "o MPLA poderia também manipulá-las, como aparentemente manipulou o voto nacional".

Fabricius chamou ainda a atenção para o facto de até agora ninguém estar a falar, pelo menos publicamente, sobre a possibilidade de o MPLA deixar cair João Lourenço como seu candidato presidencial, por força do fraco desempenho do partido nestas eleições.

"Presumivelmente poderia, uma vez que ele é indirectamente eleito pelo parlamento", sublinhou o autor do artigo.

Fátima Roque observou que a posição de Lourenço é "muito frágil". O MPLA está profundamente dividido e o actual Presidente e líder do MPLA "não tem o apoio de muitos da velha guarda", considerou.

"Ele não tem o apoio dos generais. Portanto, está numa situação em que tem membros descontentes do aparelho de segurança, membros descontentes da elite política, e uma oposição muito forte", afirmou Roque.

A economista acredita que o recurso da UNITA aos resultados eleitorais irá falhar, mas o MPLA terá de empreender "reformas drásticas para evitar uma derrota ainda maior em 2027, que poderá ser demasiado difícil de esconder".

"Terão de começar a governar correctamente", afirmou. Isto requer uma abordagem diferente da luta contra a corrupção, que deve ser alargada e "não apenas o ataque a rivais políticos como a família Dos Santos, como Lourenço tem feito até agora. E, fundamentalmente, significa combater a pobreza", acrescentou.

Já Nhamirre receia que o MPLA "continue apenas a manipular eleições para que os seus líderes possam continuar a enriquecer, pilhando os vastos recursos de Angola. E talvez o partido no poder possa também recuar ainda mais da democracia para evitar outra quase derrota embaraçosa".

Peter Fabricius falou ainda sobre a possibilidade de o partido no poder em Angola vir a abrir mão do poder, considerando que, à semelhança de outros países na África Austral, isso é fortemente improvável.

"As eleições de 2022 em Angola mostraram que o MPLA está a tornar-se rapidamente um partido rural. Isto segue uma tendência descendente evidente noutros antigos movimentos de libertação agora no governo, tais como a ZANU-PF, no Zimbabué, e o Congresso Nacional Africano da África do Sul", considerou Fabricius.

Porém, acrescentou o consultor do ISS, "nenhum dos antigos movimentos de libertação da África Austral no Governo concedeu ainda o poder - por isso é difícil imaginar que algum deles o faça".

Segundo os resultados apresentados pela CNE, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) venceu as eleições do passado dia 24 de Agosto com 51,17 por cento dos votos, contra 43,95 por cento da UNITA.

O MPLA arrecadou 3.209.429 de votos, elegendo 124 deputados, e a UNITA conquistou 2.756.786 votos, garantindo 90 deputados.

A UNITA, a Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral (CASA-CE) e o Partido da Renovação Social (PRS) declararam que não reconhecem os resultados proclamados pela CNE.

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