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MPLA/Congresso: Paz e corrupção no legado de José Eduardo dos Santos

A conquista da paz lidera o legado positivo que os angolanos reconhecem a José Eduardo dos Santos, ex-Presidente e líder do MPLA, por quase quatro décadas, feito que é contraposto pela corrupção generalizada no país.

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José Eduardo dos Santos deixará, este Sábado, a vida política activa, acto que acontece em congresso extraordinário do partido, no qual é candidato único à sua sucessão o actual vice-presidente e chefe de Estado, João Lourenço.

Em declarações à agência Lusa, Mário Quipeia, 36 anos, funcionário público, é da opinião de que José Eduardo dos Santos deixa um país "mais ou menos organizado", destacando a construção de escolas e de hospitais, reconhecendo, porém, que em número ainda insuficiente.

O funcionário público destacou como aspecto negativo a falta de solidariedade entre os angolanos, sublinhando que restou deixar "aquela união entre os angolanos". "Porque dos anos 1990 até 2000 os angolanos eram mais unidos, havia mais amor entre os irmãos angolanos. Esse amor perdeu-se depois da paz, ficou cada um a procurar o seu modo de vida. Mas de bom, trouxe a paz para o país e isso é fundamental e importante", avançou.

Sobre João Lourenço assumir a liderança do partido e do país, Mário Quipeia acha "complicado", porque, no passado, o cenário já foi o mesmo. "Deus queira que essa mudança seja diferente, não só pensar nos partidários, mas sim também na população em geral. Se o novo Presidente pensar só no partido, não vai mudar nada. Mas tenho fé que tudo vai correr bem. João Lourenço tem boas ideias, tem um bom elenco que o acompanha", frisou.

Por sua vez, Antenor Domingos, 28 anos, guarda privado, elencou o sentimento de segurança que José Eduardo dos Santos deixou aos angolanos, porque "ajudou muito Angola, tirou-a da guerra", desejando que o ex-Presidente "tenha um bom descanso".

"Considero José Eduardo dos Santos como arquitecto da paz. Digo ao José Eduardo dos Santos que descanse em paz, o povo angolano praticamente deseja isso. Para ti [José Eduardo dos Santos], tudo de bom. Para ti e para a sua família", expressou.

Relativamente a João Lourenço, considerou-o "um grande Presidente", realçando que tem acompanhado o seu trabalho desde que assumiu a Presidência do país, em Setembro de 2017, destacando as várias visitas que tem feito ao estrangeiro para a melhoria das condições de vida em Angola.

"Às vezes, ele praticamente se humilha perante os outros países para que Angola tenha um crescimento maior. Digo ao João Lourenço: força. É um grande Presidente e Angola precisa de pessoas assim como ele. Para José Eduardo dos Santos, que descanse em paz, que trabalhou mesmo muito", insistiu.

Os elogios a José Eduardo dos Santos vêm igualmente da parte de Ana Fabião, 52 anos, técnica de telecomunicações, que diz ter muito a agradecer ao ex-Presidente de Angola e, até Sábado, ainda líder do MPLA.

"Ele é um herói, até nos dias de hoje. Ele vai abandonar a política e a única ideia que quis dar é que ele depois de sair da política vá trabalhar também para Deus, para lhe recompensar aquilo que ele perdeu e aquilo que ele fez muito para Angola. É um batalhador, um pai exemplar", observou.

Para João Lourenço, Ana Fabião deseja que venha também "a receber uma grande bênção", salientando que pode contar com a colaboração dos angolanos para o crescimento do país. "Não quero mentir, o país encontra-se numa situação embaraçosa, económica e socialmente. Então vamos todos colaborar com o camarada João Lourenço para que o nosso país venha a brilhar. As dívidas, a crise, são coisas passageiras", disse.

Já João Miguel, 41 anos, vigilante, considerou a paz um bom legado deixado por José Eduardo dos Santos, mesmo não tendo sido mérito pessoal, porque "todos os angolanos lutaram para isso", sob sua liderança.

"De mal não tenho muito a criticar, porque ele é um ser humano. Houve erros sim na sua governação, mas ele não trabalhou sozinho. O que é passado é passado", frisou João Miguel, acrescentando que João Lourenço "é um excelente presidente".

Na mesma senda, Rosmaninho Aguiar, 41 anos, pequeno empresário, considerou que muita coisa foi feita pelo líder do MPLA, nomeadamente o alcance da paz, a reconstrução do país, além do testemunho de como "governar um país".

"Para quem vê o país ontem e vê hoje nota algo diferente em termos de estruturas, alguma coisa também foi feita de melhorias. Deixa um exemplo prático do que é a política, como saber governar um país, este que é grande. Espero prosperidade na sua vida futura como cidadão normal, mas como ex-Presidente da República deixou bons exemplos", disse.

A mais jovem dos entrevistados pela Lusa, Imaculada Evander, 16 anos, estudante, não deixa de enaltecer a conquista da paz, como "a única coisa boa" feita por José Eduardo dos Santos.

"Quanto às partes más, as coisas que tenho a dizer são a corrupção e o desemprego para os jovens e adultos, a falta de energia em outros locais que afectam a sociedade", enunciou, augurando que João Lourenço consiga melhorar nesses aspectos, para que os angolanos possam ter "um país melhor".

A palavra "corrupção", embora pouco referida pelos entrevistados, acabou por estar sempre presente de forma subliminar nas declarações feitas à Lusa.

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