"A travagem do investimento chinês poderia ser penalizadora para Angola, mas o esforço de cooperação oficial entre os dois países sugere que as autoridades estão empenhadas em contornar esta situação, apesar de existir alguma falta de transparência sobre o conteúdo dos acordos conseguidos", dizem os analistas.
No relatório de Setembro enviado aos investidores sobre o andamento da economia de Angola, e a que a Lusa teve acesso, os analistas do BPI sublinham que "os investimentos [chineses em Angola] foram direccionados para projectos estruturais, tais como o desenvolvimento de infra-estruturas, essencialmente sob a forma de investimento directo estrangeiro, que não tem o mesmo carácter de reversibilidade que os investimentos de carteira".
Os dois países, diz o BPI, deverão manter-se em estreita ligação económica, apesar de "o abrandamento do crescimento da economia chinesa e a alteração para um modelo de crescimento assente no consumo interno em detrimento do investimento dever alterar as perspectivas de investimento da China em África", mas Angola está usar a diplomacia para manter o financiamento chinês, essencial num contexto de quebra das receitas fiscais por causa da descida dos preços do petróleo, responsável por mais de 75 por cento da colecta orçamental e mais de 95 por cento das exportações.
A China tem tido um papel fundamental no desenvolvimento de vários países africanos, entre os quais Angola, "não só através do aprofundamento das relações comerciais, mas também da entrada de investimento chinês na região, tipicamente direccionado para o desenvolvimento de infra-estruturas ou para exploração dos recursos naturais", diz o BPI, notando que os investimentos de 170 mil milhões de dólares em 2013 e os 21 mil milhões em 2012 em Investimento Directo Estrangeiro "têm tido um papel fundamental na África Subsaariana para colmatar o gap de infra-estruturas, que se apresenta como um dos principais constrangimentos ao desenvolvimento económico".
Angola foi "um dos países que mais beneficiou do estreitamento das relações comerciais com a China", diz o BPI, argumentando que a China passou a ser o principal mercado das exportações petrolíferas na última década, ultrapassando os Estados Unidos, e que Angola passou, assim, a ser o segundo maior fornecedor de petróleo ao gigante asiático, representando 13 por cento de um 'ranking' liderado pela Arábia Saudita.
"A China ocupa também o terceiro lugar no 'ranking' dos principais países de origem das importações angolanas, logo a seguir a Portugal, que se tem mantido historicamente na primeira posição, e de Singapura (isto de acordo com as estatísticas oficiais publicadas pelo Banco Nacional de Angola, apesar de os dados da Organização Mundial do Comércio de 2014 indicarem que a China já terá subido à primeira posição)", lê-se no documento, que acrescenta que, "como resultado, a China apresenta-se actualmente como o principal parceiro comercial de Angola, e no último ano o total das relações comerciais entre os dois países ascendeu a 30,5 mil milhões de dólares".