O primeiro relatório detalhado sobre financiamento de projectos mineiros em Angola, realizado entre 12 e 23 deste mês, coordenado por Francisco Ngongo e Lubanza Pedro, foi hoje apresentado em Luanda, durante o 3.º Fórum Banca & Mineração, promovido pela Bumbar Mining e o Instituto Superior Politécnico Metropolitano de Angola (Imetro).
De acordo com o relatório, os principais bancos comerciais contactados “revelaram uma resistência significativa em financiar o sector mineiro”.
O trabalho salienta que foram recolhidas evidências que os bancos comerciais em operação em Angola “não estão dispostos a investir no sector mineiro”.
A generalidade dos bancos contactados não se disponibilizou a fornecer informação e dados primários sobre o crédito com as empresas da indústria mineira, “revelando a inexistência de políticas de crédito específicas para esse sector”.
Dos 10 bancos abordados, adianta o relatório, apenas o Banco Keve concedeu informações relevantes sobre o financiamento de projectos de mineração.
De 2022 ao segundo semestre deste ano, indica o estudo, o stock de crédito bancário para o financiamento de projetos de mineração representa apenas 26,6 milhões de kwanzas, de um total de 887,1 milhões de kwanzas (875.652 euros), cuja taxa de variação homóloga de 2023 a junho de 2024 é de -6,9 por cento.
“Estes dados, publicados recentemente no ‘website’ do BNA [Banco Nacional de Angola], demonstram claramente a insignificância, a quase inexistência do financiamento para projectos de mineração, ‘greenfield’ ou brownfield’”, salienta o relatório.
As incertezas extremas, o risco das taxas de juros e pressões inflaccionistas elevadas são outros factores que conjugam para o receio dos bancos financiarem projectos.
No último fórum sobre a Banca & Mineração, o director nacional dos Recursos Minerais, André Buta, citado no relatório, disse que os bancos se justificam com o “elevado risco do sector”, sendo que “apenas 10 por cento dos projectos de prospecção (greenfield) chegam às minas”.
Em declarações à imprensa, o director da Bumbar Mining, Sebastião Panzo, considerou um desafio para o país a resistência dos bancos.
Sebastião Panzo sublinhou que o fórum visou juntar a banca, investidores, a tutela e regulador do sector, para dar a conhecer os desafios existentes na implementação dos projectos de prospecção, os custos da actividade e como as instituições bancárias podem estar envolvidas sem o risco inicial, “que faz com que os bancos encarem tal como uma actividade não atrativa para investirem”.
Segundo Sebastião Panzo, começa a existir uma predisposição da banca em criar departamentos ligados à mineração.
“O que nós consideramos importante é juntar as pessoas para tudo o que é possível mitigar, para que a banca comece a investir na prospecção”, disse.
O responsável frisou que é necessário encontrar-se formas de financiamento à prospecção, olhando para várias modalidades que existem em África e no mundo, como a criação de sindicatos financeiros para financiar, da banca angolana com outros bancos internacionais, bem como determinar fases de prospecção para suporte financeiro.