De acordo com João Lourenço, que discursava na cerimónia de boas-vindas ao seu homólogo cubano, Miguel Díaz-Canel, em visita de Estado a Angola, a cooperação entre ambos os países, que dura há mais de quatro décadas, deve ter um novo paradigma.
"Estamos bastante satisfeitos com este grande resultado da nossa cooperação bilateral e, por isso, devemos mantê-la, conferindo-lhe um novo paradigma em que nos devemos concentrar no intercâmbio especializado de alto nível em áreas críticas do saber, para o que contamos uma vez mais com a vossa abnegada colaboração e solidariedade", apontou Lourenço.
O Presidente, que falava após manter um encontro privado com o homólogo cubano, no Palácio Presidencial, em Luanda, recordou que Angola e Cuba, nestas décadas de relações bilaterais, "desenvolveram um vasto leque de acções".
"Merecem realce as [acções] realizadas nos sectores da saúde, educação e ensino superior, defesa, turismo, transportes, desportos, comércio e indústria", apontou.
O chefe de Estado destacou o papel dos profissionais de saúde cubanos, "que durante um período considerável" asseguraram o funcionamento das unidades hospitalares de todos os níveis e em todo o território nacional, enquanto os angolanos eram formados "em Angola, em Cuba e em diversos países europeus".
João Lourenço defendeu um "papel dinamizador" do sector privado de ambos os países, no contexto da nova visão sobre o modelo que deve estar presente no relacionamento entre Luanda e Cuba.
"É fundamental pormo-nos de acordo sobre o papel dinamizador que pode desempenhar o sector privado e os cidadãos dos nossos respectivos países no quadro da livre iniciativa, para o reforço da capacidade das nossas economias e da cooperação bilateral", advogou.
O chefe de Estado assinalou também a importância da reunião da Comissão Bilateral Angola-Cuba, em Abril passado em Havana, que "fez um balanço exaustivo da cooperação" entre os dois países.
"E chegou a importantes conclusões sobre aspectos que vão garantir o funcionamento da cooperação bilateral em sectores específicos e o cumprimento de obrigações por parte de Angola, às quais daremos uma atenção cuidada por forma a cumprirmo-las sempre que possível no horizonte temporal fixado no encontro", disse.
Reconheceu que Angola atravessa um "momento sensível resultante da exposição" da sua "economia a choques externos, agravada pelas consequências da pandemia de covid-19 que afectou muito seriamente as condições de vida da população".
"Estamos a empreender um grande esforço para superar estas dificuldades e acreditamos no sucesso das medidas adoptadas", assegurou.
O desenvolvimento de mecanismos práticos, que facilitem o intercâmbio entre Angola e Cuba, a todos os níveis, o livre comércio, a complementaridade no uso dos recursos disponíveis, a transferência de conhecimento técnico, tecnológico e científico foi também defendido por João Lourenço.
O Presidente criticou o embargo económico imposto ao país latino-americano, considerando que Cuba "tem sido engenhoso na luta que trava diariamente face ao embargo a que está sujeito há décadas".
Mas apesar disso, observou, "tem revelado um impressionante nível de resiliência e de capacidade para encontrar soluções que garantam a sobrevivência do povo cubano e a preservação da independência e soberania nacional".
"Em alinhamento com a posição de grande parte da comunidade internacional, Angola defende o levantamento do bloqueio económico a que está sujeito o vosso país há décadas", argumentou.
"Acreditamos que sem o embargo, Cuba e o povo cubano definirão por si próprios o modelo político e económico que satisfaça as aspirações de liberdade, justiça e de desenvolvimento económico e social e manterão trocas comerciais e relações de cooperação económica com todos os países na base da reciprocidade de vantagens", rematou João Lourenço.
O Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, cumpriu o primeiro dia da sua primeira visita oficial a Angola.