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Analista diz que país pode destacar tema das infraestruturas de apoio ao comércio na SADC

O especialista em Relações Internacionais angolano Osvaldo Mboco considerou que Angola com a presidência da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) pode incluir na agenda o tema particular das infraestruturas de apoio ao comércio.

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Osvaldo Mboco referiu, em declarações à Lusa, que Angola é um país de matriz pacifista e prima essencialmente pelo respeito às normas do Direito internacional, bem como das instituições dos Estados democráticos de direito, salientando que a atuação do país lusófono, enquanto intermediário, se fundamenta essencialmente nos limites da carta das Nações Unidas, da União Africana e outros instrumentos internacionais.

"O Presidente João Lourenço tem estado a desdobrar-se ao nível do próprio continente africano, especificamente ao nível da Região dos Grandes Lagos sobre matérias de gestão e resolução de conflitos, e temos estado a assistir aos vários encontros realizados ou promovidos por Angola nesta mesma direção", disse Osvaldo Mboco, enfatizando que Angola é um país que até certo ponto reúne consenso a nível do continente sobre essas matérias e tem uma diplomacia proactiva e activa, o que lhe confere algum capital político.

Angola acolhe Quinta-feira a 43.ª cimeira ordinária de Chefes de Estado e de Governo da SADC, na qual o Pressidente angolano, João Lourenço, assume a presidência rotativa da organização, sucedendo o Presidente da República Democrática do Congo (RDCongo), Félix Tchisekedi Tshilombo.

Segundo Osvaldo Mboco, o capital político por si só "não resolve tudo ou não é o suficiente", o que tem congregado também a actuação de Angola "é a vontade política em ver a região pacificada".

"O que pode acontecer agora, com a presidência de Angola a nível da SADC, é que o Presidente João Lourenço terá responsabilidades acrescidas sobre essas matérias", disse o analista, frisando que João Lourenço vai liderar uma instituição com uma expressão maior em comparação à Conferência Regional dos Grandes Lagos.

O especialista destacou que na SADC os aspectos que vão dominar não são simplesmente aqueles ligados à paz, segurança e estabilidade, mas também questões como o capital humano e financeiro, a industrialização, o empoderamento da juventude e das mulheres.

O espectro central, prosseguiu o analista, será a paz, segurança e estabilidade na região, salientando que João Lourenço vai encontrar dois focos de tensões, designadamente o conflito no leste da vizinha RDCongo e os actos de terrorismo em Cabo Delgado, Moçambique, onde a SADC tem uma força (Missão Militar da África Austral - SAMIM) para combater a insurgência.

"O Presidente irá debater-se com esses dois dossiês no sentido de procurar a pacificação e a segurança desses dois Estados, porque o elemento primário para que o processo integrativo funcione é que a região esteja estável ou segura do ponto de vista político e militar, para que de facto exista as trocas comerciais", disse.

Outro assunto antigo na agenda, realçou Osvaldo Mboco, tem a ver com as infraestruturas de apoio ao comércio, como a questão das estradas regionais, inexistente na SADC, e os caminhos-de-ferro transfronteiriços.

Para Osvaldo Mboco, quando um país assume a presidência de uma organização acaba também definindo a sua agenda e "Angola, a par dos interesses da organização poderá colocar também na agenda de discussões as infraestruturas de apoio ao comércio, nomeadamente o caminho-de-ferro, tendo em linha de atenção o investimento que fez no Corredor do Lobito, que tem uma característica transfronteiriça".

Olhando para o lema da cimeira - "Capital Humano e Financeiro: Os principais Fatores para a Industrialização Sustentável da Região da SADC" -, Osvaldo Mboco realçou que a região tem cerca de 350 milhões de habitantes, isto é, um quarto da população africana, estimada em 1,4 mil milhões de habitantes, sendo o capital humano determinante para os desafios da organização regional.

De acordo com o especialista em relações internacionais, são grandes os desafios deste capital humano africano, uma vez que "grande parte dos jovens não possuem preparação profissional e em alguns casos são analfabetos".

"E esse analfabetismo não se resume simplesmente em saber ler, escrever e contar, estamos a falar também do acesso e do conhecimento às novas tecnologias, à era digital, sendo fundamental olhar para um outro prisma do ponto de vista do lema, que é o capital financeiro, que é determinante para se fazer operações de vários programas e projectos estruturais", salientou.

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