Numa publicação partilhada na sua conta na rede social Instagram, Tchizé dos Santos defendeu que "a Espanha está a ser cúmplice na humilhação internacional de um dos maiores heróis africanos, José Eduardo dos Santos. 'Que verguenza' [que vergonha]... que tristeza...".
"As instituições do vosso país entregaram o cadáver de um dos maiores heróis africanos à sua ex-mulher separada há 5 anos, contra a vontade da maioria dos seus filhos, para ser levado de Espanha e ir ser humilhado pela ditadura de Angola que o perseguiu até à morte", escreveu Tchizé dos Santos, dirigindo-se ao primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, e ao presidente do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo.
O corpo de José Eduardo dos Santos foi entregue, por decisão de um tribunal espanhol, à viúva, Ana Paula dos Santos, mãe de três dos oito filhos do antigo Presidente, contra a vontade dos outros cinco filhos (Isabel dos Santos, Tchizé dos Santos, Corean Du, Joess Avelino e Filomeno dos Santos, conhecido como Zenu), que não foram avisados da trasladação.
"A nós, os seus filhos não nos foi dado o direito a um último adeus. Isso respeita os direitos humanos Presidente Pedro Sánchez? É uma vergonha para a justiça espanhola e para o governo de Espanha. Família em primeiro lugar. Um estado que não respeita isso é humano? Um juiz de um tribunal penal espanhol decidir temas de família e entregar um cadáver de um líder de tamanha importância como José Eduardo dos Santos está correcto? Respeita o que estabelece o ordenamento jurídico espanhol?", questiona Tchizé dos Santos.
O texto acompanha uma série de fotografias dos filhos mais velhos de José Eduardo dos Santos, a primeira das quais, onde surgem Isabel, Corean Du e Joess Avelino, foi também partilhada por Isabel dos Santos nas redes sociais.
A acompanhar a imagem, Isabel dos Santos escreveu: "Somos teus filhos... nós te amamos e cuidamos de ti em vida, fomos a tua companhia, em quem tu confiaste SEMPRE! ... teus inimigos não te deixam ter descanso!! Nosso Pai .. José Eduardo Dos Santos.... !!".
Na Sexta-feira, os filhos mais velhos de José Eduardo dos Santos expressaram, através das redes sociais, a sua mágoa por não poderem despedir-se do pai na capital, onde não vão praticamente desde que o sucessor de José Eduardo dos Santos, João Lourenço, assumiu o poder, em 2017, e que, no âmbito do combate à corrupção que ergueu como bandeira do seu mandato, empreendeu uma luta que atingiu parte da família dos Santos e alguns dos seus colaboradores mais próximos.
Isabel dos Santos está a braços com a justiça angolana e Tchizé dos Santos, que seguiu o pai na carreira política e foi deputada do MPLA, diz temer pela vida se regressar a Angola. As filhas batalharam na justiça espanhola contra a entrega do corpo a Ana Paula dos Santos.
Mas também Filomeno dos Santos, filho que vive em Luanda, onde aguarda recurso de uma decisão judicial que o condenou a cinco anos de prisão, não participou no velório organizado pelo Governo, que quer realizar um funeral de Estado nos próximos dias e apoiou as pretensões da viúva contra a vontade dos filhos mais velhos.
O corpo do ex-presidente foi preparado no Domingo de manhã para os próximos dias de velório, em Luanda, de modo a que as pessoas possam "fazer o óbito", como é designado na tradição angolana.
Os restos mortais serão depois transportados para o mausoléu que homenageia o primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto, no dia 27 e no dia seguinte deverá ser feita uma cerimónia fúnebre, ocasião em que José Eduardo dos Santos completaria 80 anos.
A data das cerimónias deverá coincidir com o anúncio dos primeiros resultados das eleições gerais, que se realizam no dia 24.
José Eduardo dos Santos governou o país durante três décadas e meia, primeiro à frente do partido de regime único (MPLA) e depois durante o regime democrático.