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Falta de espaços públicos levou assembleia de voto para obra inacabada

No Bairro Popular, nos arredores de Luanda, a falta de edifícios públicos com condições, espaço ou electricidade para acolher umas eleições gerais levou as autoridades a escolherem, pela segunda vez, um local inusitado: uma obra inacabada.

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A assembleia de voto n.º 1.089 - entre a estrada de Catete e o Bairro do Palanca - operou ao longo da jornada eleitoral nas obras daquilo que virá a ser uma nova escola. Paredes nuas, janelas sem caixilhos e alguma ferragem atestam o estado incompleto do local, que já estava em obra nas eleições de 2012. Assim continua.

Nos cadernos eleitorais das cinco mesas de voto instaladas estavam inscritos um total de quase 2500 cidadãos. Tudo correu bem, diz a presidente da assembleia de voto, Carolina Luís, estimando a adesão ao voto em mais de 70 por cento. "Podemos dizer que a maioria dos eleitores aderiram à assembleia. (...) Em cada caderno [eleitoral] temos 493 eleitores. (...) Podemos dizer que temos 70 por cento [de votação] ou mesmo acima, porque ainda não temos a confirmação das outras mesas", disse Carolina Luís.

À hora marcada, exactamente às 18h00, os portões de chapas de zinco (que envolvem toda a obra) foram corridos e a votação para as eleições gerais de 2017, neste local, estavam fechadas. Nem uma pessoa estava dentro do espaço ainda para votar depois da hora.

"Correu tudo bem, como podem observar nem temos eleitores fora da nossa assembleia, e muito menos dentro. (...) O objectivo é melhorar, e podemos dizer que correu melhor do que em 2012", disse a mesma responsável.

O espaço acabou por funcionar bem, acima das expectativas. Filas para votar, realçou, só de manhã. "Foi um bom espaço para conseguirmos trabalhar. Para a função que nós exercemos as condições foram as melhores, para conseguirmos controlar as bichas de eleitores" que ocorreram apenas pela manhã, disse Carolina Luís.

Os elementos das mesas, formados pela CNE em antecipação, comeram no local uma ração própria para estas situações, em que todos tiveram que vir muito mais cedo do que a abertura das urnas, para montar as cabines de voto e distribuir o material - boletins, cadernos eleitorais, urnas e tinta indelével - pelas mesas.

Após o fecho das urnas, a responsável do espaço passou pelas mesas, registou o número de boletins não utilizados (que foram metidos no saco apropriado para esse efeito) e procedeu à trasladação das urnas para um local com luz eléctrica, onde se procedeu à contagem, na presença dos delegados de lista dos partidos.

José Isaac Dala, de 19 anos, foi dos últimos a votar. Teve problemas a dar com o sítio, mas quando aqui chegou foi "um tiro". "Foi muito esforço. (...) muitas trajectórias. Tive que ir a outra assembleia [de voto]. Até chegar aqui ainda passei por outras, mas estou aqui", disse José Isaac, que votou pela primeira vez.

O jovem disse que não sentiu quaisquer nervos, já tinha bem claro em quem queria votar. "Nós devemos escolher quem é o melhor - que não quer dizer que não erre - e escolher o líder ideal para dirigir o país", disse José Isaac, que se está a formar na área de saúde e pretende vir a ser médico, em cirurgia cardiovascular.

Para trabalhar aqui ou ir para outro país? "Pretendo viver aqui em Angola para sempre. Não sair nunca - a não ser para ir passear. Angola é a minha vida", sentenciou. José Isaac faz parte dos 42% por cento dos angolanos com menos de 25 anos, muitos deles a viver a primeira experiência de voto numas eleições gerais.

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