Ver Angola

Política

O dia em que João Lourenço não levantou os quatro dedos

João Lourenço tinha acabado de votar e mostrava o indicador direito marcado com tinta indelével azul quando se ouviu um apelo - que o candidato do MPLA recusou - para que levantasse quatro dedos, o sinal da posição do partido no boletim de voto.

:

O cabeça de lista do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) votou cerca das 9h30 na faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto, no bairro Mártires do Kifangondo, em Luanda.

Surgiu - como habitualmente - rodeado de fortes medidas de segurança, muita polícia e elementos do corpo de segurança pessoal. Ao longo da avenida Ho Chi Minh, em intervalos regulares, vários militares armados controlavam com o olhar, de longe.

O número de jornalistas que se acotovelava para captar a imagem do homem mais bem posicionado para se tornar o próximo presidente de Angola mais do triplicava o número de pessoas na fila de espera para votar na Assembleia de Voto n.º 1160.

No andar das mesas de voto, mesmo cenário. Câmaras, holofotes e microfones rodearam o candidato do MPLA, um general na reserva que é também ministro da Defesa.

João Lourenço tem gestos pausados, mas votou rápido. Deu o nome, mostrou o cartão e, após breve passagem pela cabina, fez uma pausa para a fotografia do depósito do voto na urna.

Depois marcou o indicador direito com tinta indelével, um dos vários procedimentos nas eleições para impedir que alguém vote mais do que uma vez.

De entre o amontoado de gente surgiu então uma voz para que João Lourenço levantasse "o quatro", o sinal com quatro dedos levantados que surge nas imagens do candidato em milhares de cartazes espalhados um pouco por todo o país, mas com mais intensidade na capital.

O MPLA surge na quarta posição no boletim de voto e é hábito os partidos terem um slogan baseado no número: "vota no quatro" ou "no dia 23 escolha o número um" (a posição que calhou em sorteio à UNITA).

De pé em frente aos jornalistas, ao lado da mesa de voto, João Lourenço manteve - e repetiu para vários planos - um só dedo levantado, o indicador direito manchado de azul.

A mesma imagem - incluindo o azul no dedo - dos momentos pós-voto do cabeça de lista da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, uma hora antes, em Talatona (arredores de Luanda). No caso de Samakuva destoava menos da campanha, um mês a levantar o indicador levantado para os militantes e simpatizantes, a apelar ao voto no "um".

A voz a pedir "quatro dedos" calou-se - fez um único apelo - e o candidato do MPLA saiu. Um "batalhão" de jornalistas seguiu-o, engarrafando as escadas até ao átrio, tanto as usadas para descer como as usadas para subir.

À entrada do edifício, Lourenço manteve o mesmo tom contido: apelou ao voto esta Quarta-feira de todos os angolanos, mostrou-se agradado, mas não entusiasta, com a forma como está a decorrer acto eleitoral.

"Gostamos da organização. Não tem grandes filas e o acto foi simples e rápido. Acredito que é assim em todas as assembleias de voto em Angola", disse João Lourenço à porta da faculdade de Direito.

Na fila para votar - com não mais de uma vintena de pessoas - João Paulo, bancário de 29 anos, concorda: a eleição deste ano está mais fácil do que em 2012.

"Em relação a 2012 nota-se uma maior organização. A CNE [Comissão Nacional Eleitoral] fez melhor e está de parabéns. Em 2012 foi notório: houve muita desorganização e as pessoas não sabiam onde o poderiam fazer", disse o jovem.

João Paulo destaca-se dos demais por ter vindo votar de verde e branco. Não a cor de algum partido, mas sim as cores da camisola do Sporting Clube de Portugal, que esta Quarta-feira até joga uma eliminatória da Liga dos Campeões.

Então é participar nas eleições e esperar pelo jogo de logo, na televisão? Nada disso.

"Não sou propriamente adepto do Sporting. Gosto do Sporting, mas sou adepto de outro clube: sou do FC Porto", contou, entre risos de quem estava por perto a ouvir.

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.