“As nações do mundo têm lidado há décadas com instituições de governação global criadas após a Segunda Guerra Mundial, mas com as profundas mudanças que se vêm registando no mundo nestas oito décadas passadas, precisam de se ajustar às novas realidades”, disse João Lourenço perante representantes de cerca de 30 países e de uma dezena de organizações internacionais, que se encontram na cidade brasileira do Rio de Janeiro para participar da XVII Cimeira de chefes de Estado e de Governo dos BRICS.
Na sua opinião, o bloco dos BRICS pode "ter um desempenho relevante e actuante no sentido de se construir um maior equilíbrio na discussão sobre os temas referentes à governação mundial, entre o Sul Global e os países desenvolvidos”.
O chefe de Estado sublinhou ainda a “urgência e a importância de se trabalhar com o objectivo de se conseguir o fortalecimento do multilateralismo, cada vez mais ameaçado nos tempos que correm”.
Mais uma vez, frisou, o bloco dos países emergentes, têm um papel “decisivo e fundamental para que se reequilibre a abordagem relativa à ordem económica mundial em que sobressaem as questões que dizem respeito ao comércio assente sobre bases mais justas, ao investimento e ao financiamento em moldes menos onerosos para os mais necessitados”.
Horas antes desta declaração, o chefe de Estado brasileiro, Lula da Silva, deixou duras críticas na abertura da cimeira dos BRICS relativamente ao "colapso sem paralelo do multilateralismo", reforçando a importância de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU.
Lula da Silva deixou ainda duras críticas ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que "ultimamente nem sequer é consultado antes do início de acções bélicas" e cujas reuniões apenas conduzem a mais "perda de credibilidade e paralisia".
"Para superar a crise de confiança que enfrentamos, é preciso transformar profundamente o Conselho de Segurança", através da inclusão de novos membros permanentes da Ásia, da África e da América Latina e do Caribe, considerou, salientando que esta reforma é fundamental para "garantir a própria sobrevivência da ONU".
Lula da Silva recebeu no Rio de Janeiro líderes dos BRICS para a cimeira anual do grupo, marcada pela ausência de presidentes como o russo, Vladimir Putin, e o chinês, Xi Jinping, numa cimeira que conta com cerca de 30 países representados e uma dezena de organizações internacionais.
Putin participa por videoconferência, após recusar o convite de Lula da Silva por estar sob mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional por alegados crimes cometidos durante a guerra na Ucrânia, e será representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergey Lavrov.
Mais surpreendente é a ausência de Xi Jinping da China, que tem sido um participante constante em cimeiras anteriores, e será substituído pelo primeiro-ministro Li Qiang.
A cimeira centrou-se em quatro temas principais: a reforma das organizações que regem a ordem internacional, a promoção do multilateralismo, a luta contra a fome e a pobreza e a promoção do desenvolvimento sustentável, num bloco que representa mais de 40 por cento da população global e mais de 35 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.