"A doutora Eugénia Neto estará cá em Cabo Verde para receber a condecoração e estará cá um dos filhos de Salim Ahmed Salim para também receber o prémio. São duas personalidades muito ligadas a Cabo Verde", disse o Presidente cabo-verdiano, questionado pela Lusa à margem de um evento oficial na Praia.
A Lusa noticiou na Quinta-feira que o Presidente cabo-verdiano atribuiu a Ordem Amílcar Cabral ao antigo líder da Organização da União Africana (OUA), Salim Ahmed Salim, e a Maria Eugénia Neto, viúva do primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, no âmbito das comemorações dos 48 anos da independência, que se assinalam a 5 de Julho.
No decreto presidencial de 28 de Junho, em que atribui as condecorações, para "exprimir reconhecimento e um profundo sentido de gratidão", o chefe de Estado recorda que a independência nacional, proclamada a 5 de Julho de 1975, "constitui sempre motivo e oportunidade para uma necessária retrospectiva do percurso histórico, político e cultural da nação", possibilitando "a valorização das conquistas, a compreensão do presente e a projecção do futuro".
No âmbito das comemorações do 48.º aniversário da independência de Cabo Verde, o Presidente atribui ao diplomata tanzaniano Salim Ahmed Salim, antigo primeiro-ministro daquele país e secretário-geral da Organização da União Africana (OUA) de 1989 a 2001, a Ordem Amílcar Cabral, primeiro grau.
"Diplomata arguto, laborioso e que, justamente por isso, ultrapassou os limites da actuação no âmbito do seu país, a Tanzânia, para ser uma voz credível à escala do continente e no seio de instâncias globais como a Organização das Nações Unidas. Legitimamente, pertence à plêiade de personalidades que de modo automático e natural são associadas à luta pelo pan-africanismo e pela Unidade Africana. Nesse sentido, aliás, contribuiu em vários momentos e em diversos espaços", justifica-se no mesmo decreto.
Acrescenta-se que Salim Ahmed Salim "soube projectar e defender com inteligência e grande profissionalismo os ideais e os interesses políticos fundamentais do seu país e de África", apoiou os movimentos de libertação nacional, "particularmente os das antigas colónias portuguesas, e os combatentes sul-africanos ao regime do apartheid".
No mesmo âmbito, Maria Eugénia da Silva Neto, viúva do primeiro Presidente de Angola, Agostinho Neto (1922 – 1979), é distinguida com a Ordem Amílcar Cabral, segundo grau, com José Maria Neves a destacar que a "componente decisiva da luta comum pela emancipação dos povos africanos é seguramente a das mulheres, cujo contributo, com a mesma firmeza de princípios e a mesma determinação que as dos homens, manifestou-se nas mais variadas frentes".
"Mulheres, mães, esposas, filhas e camaradas, patriotas de primeira linha que negaram ser relegadas a trabalhos domésticos, secretariais ou administrativos, para actuarem activamente para a libertação da África. Neste particular, destacamos Maria Eugénia da Silva Neto que, na conscientização e mobilização de mulheres, bem como nas suas valiosas participações no departamento de informação e comunicação do Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, nas actividades do departamento de cultura e nas diversas intervenções literárias e jornalísticas anticoloniais, demonstrou o compromisso infalível com a luta de libertação de Angola e de todo o continente", explica-se.
"Nessa sua fidelidade aos ideais da luta conduzida pelo Dr. António Agostinho Neto, suportando magnânima e estoicamente todas as consequências e as enormes renúncias pessoais impostas pela sua opção política íntima e voluntária, é ainda notável o empenho dedicado à valorização e divulgação da memória da luta, em especial do legado do Presidente Neto, facto de fundamental importância para o conhecimento da História de Angola e a formação das novas gerações", acrescenta-se no decreto.