Ver Angola

Sociedade

RDCongo e Ruanda acordam cessar-fogo e mecanismo de observação após encontro com JLO

A Republica Democrática do Congo e o Ruanda concordaram esta Quarta-feira em criar um mecanismo de observação ‘ad-hoc’ e um cessar-fogo imediato, para aliviar as tensões entre os dois países, após um encontro mediado pelo Presidente.

:

O Presidente da Republica Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, e o seu homólogo do Ruanda, Paul Kagame, encontraram-se em Luanda para uma cimeira tripartida mediada por João Lourenço para discutir uma solução para o conflito armado na fronteira leste da RDCongo, cuja responsabilidade as autoridades congolesas atribuem ao Ruanda.

Os três chefes de Estado fizeram curtas declarações aos jornalistas, sem direito a perguntas, após a reunião, que durou mais de duas horas, mostrando-se satisfeitos com os avanços conseguidos e os resultados "satisfatórios" do encontro.

João Lourenço assinalou os "progressos positivos" que resultam num cessar-fogo entre outras medidas que constam do roteiro agora aprovado, incluindo a criação de um mecanismo de observação 'ad-hoc', além do existente a nível da Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos que será liderado por um oficial general angolano.

Foi também decidida a realização de uma reunião da comissão mista entre os dois países, que já teve lugar em Kigali e devia acontecer também em Kinshasa, mas que vai acontecer a 12 de Julho, em Luanda, "como forma de restabelecer a confiança perdida entre os dois países".

O Presidente angolano realçou igualmente o "entendimento perfeito" entre os chefes de Estado e que conduziu a estes resultados.

Também o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, se declarou satisfeito, agradecendo os esforços "incansáveis" de João Lourenço em busca da paz na região e "entre os dois países irmãos", bem como ao seu homólogo congolês pelos contributos para "seguir em frente".

O chefe de Estado ruandês sublinhou que ambos procuram a normalização das relações entre os dois países e querem resolver "as questões subjacentes" que "levaram a este ponto". "O que atingimos foi satisfatório e o melhor possível para seguirmos em frente", afirmou Kagame, considerando que este foi um bom meio para normalizar as relações.

O Presidente da RDCongo, com uma tónica mais dura na sua declaração, agradeceu também os esforços de João Lourenço na procura de uma solução pacífica para uma situação "injustamente imposta à RDCongo".

Félix Tshisekedi destacou que ambas as partes "mostraram intenção manifesta de avançar e pôr fim a esta crise", agradecendo também a Kagame pela disponibilidade, e sublinhou que é necessário restabelecer a confiança entre os dois países e os dois povos. Confiança que "foi interrompida, infelizmente, quando tudo corria bem, na via da normalização entre os dois países".

O chefe de Estado congolês salientou que quis, desde a sua chegada ao poder, enviar um sinal forte não só ao Ruanda, mas a todos os países da região, da sua intenção de ter relações viradas sobretudo para as trocas proveitosas aos países e populações da região, "que é uma das mais ricas de África", em vez de se centrar "nas tensões inúteis que observámos no passado".

"Eu sou uma das pessoas mais afetadas pela situação atual no leste do meu país e, por isso, farei tudo o que estiver ao meu alcance para fazer avançar a situação e retirar os meus compatriotas desta situação que já dura há 20 anos", declarou.

Tshisekedi afirmou que a tensão se agravou com "esta situação lamentável" do M23. "Não posso compreender que um grupo armado que estava a discutir connosco em Nairobi, mas num comportamento totalmente inexplicável, em que o interlocutor estava disponível para ouvir as revindicações, possa, de novo, pegar em armas para exercer chantagem e pressão", criticou.

O Presidente da RDCongo acrescentou que espera, depois da reunião, um cessar-fogo imediato e a retirada deste grupo M23, enquanto se coloca em marcha o roteiro definido para a paz, a estabilidade e a confiança.

Nesse sentido, a comissão mista "que já não se reúne há muito tempo" e que vai reunir-se em Luanda tendo em conta o contexto urgente deverá contribuir com soluções.

"É isso que nós esperamos, na RDCongo. Nós não queremos nem crise, nem guerra, isso perturba completamente o projeto de desenvolvimento que temos para o nosso país e para a região", destacou.

As relações entre o Ruanda e a RDCongo, países vizinhos, deterioraram-se desde que a RDCongo recebeu, na sua parte leste, hutus ruandeses acusados de participar do genocídio de tutsis em 1994.

A actual escalada da tensão deve-se ao ressurgimento do grupo M23 (Movimento 23 de Março), milícia armada que em 2012 fez oposição ao Governo congolês e gerou um violento conflito que forçou o deslocamento de milhares de pessoas na província do Kivu Norte. No final do mesmo ano, o M23 assumiu o controlo de Goma, mas recuou depois de o Governo congolês aceitar abrir negociações.

O M23 era inicialmente uma milícia congolesa formada por tutsis da RDCongo e, alegadamente, apoiada pelos governos de Ruanda e Uganda. Em 23 de Março de 2009, a milícia assinou um acordo de paz com o Governo congolês que culminou com a incorporação dos seus membros no exército da RDCongo.

Em Março último, a RDCongo acusou o Governo do Ruanda de enviar militares das forças especiais para o território congolês. Entre Maio e Junho deste ano, os ataques do M23 mataram dezenas de civis. Mais de 170.000 pessoas foram deslocadas.

Os líderes da África Oriental concordaram no mês passado em criar uma força regional para tentar pôr fim ao conflito no Kivu do Norte.

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.