Em comunicado, divulgado esta Quarta-feira pela embaixada de Angola junto da Santa Sé, a diplomacia angolana classificou como "um sinal de esperança" o "histórico encontro" do Papa Paulo VI com os líderes dos movimentos de libertação Agostinho Neto (Angola), Amílcar Cabral (Guiné-Bissau e Cabo Verde) e Marcelino dos Santos (Moçambique).
"Esse encontro, ocorrido há 50 anos, não marcou apenas uma nova etapa no processo que culminou com a independência dos países e contribuiu para o fim da colonização, mas evidenciou ao mundo a inclinação pontifícia para a esperança e a paz", afirmou a nota.
Os líderes independentistas africanos foram recebidos pelo Papa Paulo VI no final da Conferência Internacional de Solidariedade com os Povos das Colónias Portuguesas, a 1 de Julho de 1970.
A conferência e a audiência, sobre as quais hoje passam 50 anos, foram consideradas determinantes para o reconhecimento do direito à autodeterminação dos povos das então colónias portuguesas e decisivas na luta pela independência.
Para a celebração do cinquentenário, chegou a estar prevista a realização de uma sessão protocolar e de uma série de conferências, mas o programa acabou por ser cancelado devido à pandemia de covid-19.
"A pandemia impossibilita as justas celebrações da memorável audiência, mas não impede que manifestemos a nossa satisfação pelas relações entre a Santa Sé e os países, que ao longo dessas décadas se aprofundaram e consolidaram", apontou.
A diplomacia recordou que no final da audiência, o Papa entregou a cada um dos líderes um exemplar da encíclica Populorum Progressio, na qual dirigia a atenção da Igreja Católica para "o desenvolvimento dos povos", nomeadamente daqueles que "se esforçam por afastar a fome, a miséria, as doenças endémicas, a ignorância, que procuram uma participação mais ampla nos frutos da civilização, uma valorização mais activa das qualidades humanas e que se orientam com decisão para o seu pleno desenvolvimento".
Angola assinalou ainda que, 50 anos depois, as "aspirações africanas transformaram-se", mas que as palavras e a posição do Vaticano continuam a ser "uma inspiração para os desafios do futuro".
Com a memória da decisiva audiência de Paulo VI e com o encorajamento do Papa Francisco "temos hoje a certeza de que poderemos enfrentar com confiança o futuro", sustentou o comunicado, sublinhando as audiências concedidas pelo actual líder da Igreja Católica aos presidentes das repúblicas de Angola, Cabo Verde e Moçambique, bem como da viagem apostólica do pontífice a Moçambique e Madagáscar em Setembro de 2019.
"Seguimos no sólido caminho que distingue as relações entre a Santa Sé e os nossos países. Somos gratos pelos gestos incansáveis do Papa Francisco em favor da superação da pobreza, do espírito de misericórdia, da protecção do meio ambiente, e pela atenção que reserva aos países em desenvolvimento", concluiu.