Numa ronda pelas ruas da capital, a Lusa constatou esta realidade, que torna a cidade numa espécie de mercado ambulante global, marcada por todo o tipo de rendimentos que servem para garantir o sustento de milhares de famílias.
É o caso de Maravilha da Silva, uma das muitas mulheres que todos os dias vai para as ruas de Luanda vender telemóveis.
Em conversa com a Lusa, esta jovem de 30 anos diz que o negócio é rentável e que os telemóveis mais baratos são os que têm maior saída. Em pleno centro de Luanda, chega a vender 15 telemóveis por dia, a preços que variam entre os 6000 e os 200.000 kwanzas.
"Temos, sim, pessoas que compram os telefones digitais, mas são poucas. Aqui a opção recai muito para os telefones de 6000 e 12.000 kwanzas e preferimos vender aqui na rua devido ao elevado número de transeuntes", explica.
De acordo com a vendedora ambulante, os produtos são provenientes do Dubai e são poucas as pessoas que se arriscam a comprar um telemóvel topo de gama, devido aos preços: "Aparecem mesmo alguns clientes, fizemos descontos e com garantia de um mês nesses telefones mais caros", acrescenta.
Noutro ponto da cidade, a Lusa encontrou Alberto José, de 32 anos, que passa o dia a percorrer Luanda a pé, a vender armações para óculos graduados, precisamente em frente a uma loja de óptica.
"Estarmos na rua é um bocado complicado e como se não bastasse, a crise também afectou muito o nosso negócio, com a procura a reduzir consideravelmente", explica.
Há três anos nesta actividade, Alberto José conta que os preços dos produtos que comercializa são acessíveis e que todos os dias consegue levar para casa, de lucro, até 8000 kwanzas.
"Temos armação de 2000 e de 4000 kwanzas, os nossos preços aqui são variáveis. Estamos a remediar-nos, para não faltar um pão em casa, assim vai a vida", desabafa.
Ainda no centro da capital, a Lusa encontrou o sapateiro Fernando Sebastião Fialho. É sapateiro profissional há 37 anos e assume que tem muitos clientes, devido, afirma, à qualidade do serviço que presta.
"Para reparar calçados eu cobro barato e os preços são a partir de 1000 kwanzas, aliás no negócio não adianta apertar muito o preço e ter poucos clientes, daí que baixo para ter muitos clientes a assim a procura aumenta", aponta.
Explica que o ofício é digno e rentável, por isso até é várias vezes solicitado para ir fazer trabalhos ao domicílio.
"Sou um sapateiro que também faz serviços ao domicílio, entre lavar, cozer, engraxar e aplicar outros adornos aos calçados. No máximo, diariamente, consigo ter um ganho de 10.000 kwanzas", realça.
Face à demanda, "Chiquinho", como é mais conhecido pelos clientes, adianta que precisa alargar o leque de ferramentas que usa e passar para uma reparação de sapatos com uma técnica mais apurada. Isto devido às dificuldades de trabalhar manualmente mais de sete horas por dia.
"Agora estou a precisar de formas e outras máquinas para alargar sapatos, porque à mão é muito cansativo", relata, sublinhando que dedica 90 por cento do seu tempo a reparar calçado e o restante a engraxar, pelo centro da cidade de Luanda.