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Economia

Fitch diz que Angola precisa de quase 10 mil milhões de dólares este ano

A agência de rating Fitch disse que Angola precisa de 9,7 mil milhões de dólares para suprir as necessidades de financiamento externo este ano, em que a dívida a pagar vale 7,1 por cento do PIB.

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De acordo com um relatório sobre as economias da África e do Médio Oriente, enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso, os dados sobre Angola apontam para um défice de 7,5 por cento da balança corrente e necessidades de financiamento no valor de 9,7 mil milhões de dólares, que equivalem a 14,6 por cento do PIB do final do ano passado.

Sobre a dívida vencida, os analistas da Fitch apontam para um valor que vale 7,1 por cento do PIB, ou seja, um pouco menos de 6 mil milhões de dólares que o país terá de pagar este ano.

A tabela, no final do relatório, que dá outros dados sobre Angola, mostra ainda que as reservas em moeda internacional, no final do ano passado, estavam nos 17,2 mil milhões de dólares, mas o valor tem descido durante os primeiros meses deste ano.

O relatório sobre as economias de África e do Médio Oriente atribui, neste contexto, um papel fundamental ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Desde o início da pandemia até 16 de junho, o FMI aprovou 11,9 mil milhões de dólares para apoio de emergência à balança de pagamentos", usando várias modalidades, que equivalem e 7 por cento das necessidades de financiamento de 26 países destas duas regiões acompanhados pela Fitch Ratings.

Neste valor estão incluídos os 3,4 mil milhões de dólares concedidos à Nigéria, a primeira ajuda desde os anos 80, e o pacote em negociação com a África do Sul, que será, a ser aprovado, o primeiro financiamento do Fundo desde 1993.

Sobre a Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI), avançado pelo G20 para a dívida bilateral oficial, a Fitch diz que o acordo "encoraja o envolvimento do setor privado, mas tem sido limitado, até agora, a obrigações bilaterais".

Entre os países que já aderiram à suspensão temporária do serviço da dívida avançado pelo Clube de Paris estão os Camarões, a República do Congo, a Etiópia e a Costa do Marfim, mas outros países elegíveis, como Angola, Cabo Verde e Moçambique, ainda não assinaram o acordo de suspensão da dívida.

"Outros governos, como o Benim e o Quénia, disseram que não vão aderir à DSSI porque sentem que isso poderia prejudicar os 'ratings' e o acesso aos mercados de capitais", lembrou a Fitch.

"A participação na DSSI vai fornecer apenas um apoio limitado para a maioria dos países relativamente à totalidade das necessidades de financiamento", considera a Fitch, exemplificando com os 213,5 milhões de dólares para Moçambique, o equivalente a 2,4 das reservas internacionais no final do ano passado.

Angola, por outro lado, "é dos que pode beneficiar mais com a DSSI; tem cerca de 2 mil milhões de dólares de dívida bilateral a ser paga entre Maio e Dezembro deste ano, equivalente a 11,2 por cento das reservas no final do ano passado, mas a maioria é devida à China, por isso o alívio vai depender da obtenção de um acordo entre os dois países", conclui a Fitch.

A Fitch piorou o 'rating' de Angola em março de B para B-, ambos abaixo da linha de recomendação de investimento, citando, entre outros factores, a depreciação em 36 por cento do kwanza face ao dólar durante 2019, que levou a um aumento dos custos de servir a dívida pública externa, que em percentagem do PIB subiu para mais de 100 por cento.

O relatório da Fitch surge na mesma altura em que a Comissão Económica para África das Nações Unidas (UNECA) tem mantido reuniões com os ministros das Finanças africanos, na sequência da discussão pública que tem existido nos sobre como os governos podem honrar os compromissos e, ao mesmo tempo, investir na despesa necessária para conter a pandemia da covid-19.

A assunção do problema da dívida como uma questão central para os governos africanos ficou bem espelhada na preocupação que o FMI e o Banco Mundial dedicaram a esta questão durante os Encontros Anuais, que decorrem em Abril em Washington, na quais disponibilizaram fundos e acordaram uma moratória no pagamento das dívidas dos países mais vulneráveis a estas instituições.

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