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Angola “recuperou” seis obras de arte africanas que estavam perdidas

Seis peças do Museu do Dundo iniciaram a viagem de regresso a casa, partindo de Bruxelas para uma travessia no tempo até Angola, com o contributo da Fundação Sindika Dokolo, ‘responsável’ pela recuperação das obras de arte perdidas.

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Um cadeirão de chefe ‘chokwe’, um cachimbo adornado com uma cabeça humana, uma taça para cozinhar mandioca, um pequeno banco circular, uma máscara de “madeira maciça de cor vermelha”, e uma importante máscara ‘chokwe’, que integrou o lote de forma inesperada, regressaram à pertença do Governo angolano, numa cerimónia que gerou grande expectativa em Bruxelas.

A restituição oficial ao Estado angolano de seis objectos de arte das colecções nacionais pertencentes ao Museu Regional do Dundo, desaparecidos durante os turbulentos anos de guerra civil no país, lotou a sala de uma unidade hoteleira da capital belga, numa audiência na qual não faltaram negociadores de arte, galeristas, jornalistas, destas e de outras latitudes, mas também representantes do Estado Angolano.

Com as seis obras de arte africanas expostas para quem as quisesse admirar, Sindika Dokolo tomou a palavra, numa mesa onde também estavam o embaixador de Angola na Bélgica, Georges Chikoti, e Alexandra Aparício, do Ministério da Cultura de Angola, e fez-se ‘maestro’ da cerimónia, ou não fosse ele o ‘responsável’ pela identificação e recuperação das mesmas.

“Desde 2016, temos celebrado uma parceria estratégica com o Governo angolano, que tem como propósito a identificação, localização, e repatriamento do acervo da colecção do Museu Regional do Dundo, que se perdeu, e foi parar ao mercado durante a guerra”, explicou posteriormente aos jornalistas.

Criado em 1936, pela antiga Diamang (Companhia de Diamantes de Angola), no Nordeste do País, na província da Lunda-Norte, o Museu Regional do Dundo reunia as principais colecções de arte nacional, que se encontram agora dispersas pelo globo.

“Muitas dessas peças – são mais de 1000 as que existiam no espólio do museu – foram parar ao mercado privado, a coleccionadores, parte cá na Bélgica, que, como país colonizador do Congo, tem esse mercado muito dinâmico, nos Estados Unidos, e no Brasil. Temos várias pistas que temos de seguir agora”, revelou o coleccionador de arte e empresário, nascido no Congo.

Dessas mais de 1000 peças, 60 estão identificadas e 11 foram já devolvidas a Angola, em três cerimónias realizadas em Luanda, Paris e Bruxelas.

“Temos uma equipa cá em Bruxelas que está a trabalhar com o mercado, com a instituições museológicas, para identificar as peças. Quando encontradas, falamos e negociamos com os proprietários para pagar uma indemnização, e recuperar as peças que têm de voltar para Angola, onde têm de desempenhar um papel importante na história e cultura do país”, argumentou.

Essa defesa da importância da restituição das obras de arte africanas a Angola levou mesmo o presidente da Fundação Sindika Dokolo a abdicar de uma peça simbólica do seu espólio pessoal.

“Inicialmente, iríamos fazer a devolução de cinco peças e agora temos seis. Há dez dias liguei para a minha equipa cá em Bruxelas e pedi à responsável pela identificação das peças para me informar sobre as obras que ela tinha identificadas e fiquei bastante estupefacto ao descobrir que, na lista, havia essa máscara chokwe, que é uma máscara importante e simbólica para mim, porque, em 2007, foi a primeira obra importante que comprei num leilão, nos Estados Unidos”, relatou.

O empresário congolês, que é marido de Isabel dos Santos, tornou-se assim no “único coleccionador que não vai receber indemnização”. “É uma sensação agridoce, porque, como coleccionadores, temos uma relação muito íntima com esses objectos, mas ao mesmo tempo tenho a satisfação de o ver voltar para aquele que é o seu sítio legítimo, que é o Museu do Dundo”, confessou.

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