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Gastronomia

Valdemar Txicomba: o chef que quer mostrar Angola ao mundo

Nunca quis ser chef, mas as contrariedades da vida mostraram-lhe um caminho que viria a ser de sucesso. A separação dos pais e a ausência de uma mãe trabalhadora empurram-no para a cozinha de casa, e a necessidade de emprego levou-o mais tarde a um restaurante. Planeava ficar por pouco tempo, ganhar o que era seu por direito e sair. Foi ficando. O tempo passou e quando deu conta estava apaixonado por um mundo que ia muito além dos tachos e das panelas. Tinha 17 anos.

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As portas abriram-se mais tarde, no Hotel de Convenções de Talatona, que diz ter sido “uma verdadeira escola”. Hoje, abraça um desafio novo chamado Xperience. Valdemar Txicomba tornou-se assim uma das jovens promessas gastronómicas do nosso país, fazendo parte da lista dos “5 Chefs Angolanos em Ascensão” assinada pelo Luanda Nightlife. Com um misto de surpresa e orgulho diz pretender continuar a trabalhar para honrar o reconhecimento. Os planos vão desde um programa televisivo dedico exclusivamente à cozinha angolana até ao próprio restaurante. A promessa, essa mantém-se a de divulgar a gastronomia angolana além-fronteiras.

Valdemar, em primeiro lugar queremos saber mais sobre si. Onde nasceu, onde cresceu, como foi a sua infância?

Nasci em Luanda, no Município do Cazenga, mais concretamente na Rua da Lama. Tive uma infância muito difícil, os meus pais separaram-se muito cedo e enfrentei várias dificuldades na vida, desde alimentação ao vestuário. Tive de começar a trabalhar muito cedo para poder ajudar nas despesas da casa.

É desde sempre um apaixonado pela cozinha ou este é um amor recente? Sempre quis ser chef?

Desde cedo que fui obrigado a cozinhar. A minha mãe tinha de ir trabalhar e eu cozinhava para nós. Mais tarde um amigo arranjou-me emprego no Restaurante Danado de Bom. Aceitei, mas não pensei que fosse por muito tempo. Só queria dinheiro para a carta de condução e depois saia. O tempo passou e nunca mais sai… Assim começou o meu amor pela cozinha, aos 17 anos. Nunca sonhei ser chef de cozinha, mas coisas foram acontecendo, graças a Deus.

Quais as suas principais influências gastronómicas? Que tipo de cozinha mais aprecia?

Uma das primeiras influências foi, sem sombra de dúvidas, a minha mãe, uma cozinheira doméstica de mão cheia. Depois, inúmeros chefs passaram e influenciaram a minha vida, como Rui Sá, Júlio Pereira, António Almeida, Manuel Mata, Francisco Rosa, Pedro Marques e Óscar Fernandes, todos eles portugueses, sendo assim esta a minha maior influência.

Pessoalmente, aprecio bastante a comida italiana, é aí que me sinto em casa. Não posso esquecer que comecei como pizzaiolo (profissional especializado na preparação de pizzas).

Antes de chegar ao Xperience passou por locais como o Hotel de Convenções de Talatona e o Brasa. Aprendeu muito com estas experiências? Qual a mais marcante?

A experiência no Hotel de Convenções de Talatona foi sem dúvida a mais marcante que já tive, e não sei se viverei outra igual na minha vida. Foi uma verdadeira escola para mim. Lá aprendi quase tudo o que sei, e hoje só tenho a agradecer.

O Restaurante Brasa foi como que um prémio. Foi lá que amadureci, com 25 anos. Lá comecei a lidar com pessoas com quase o dobro da minha idade, e substituir alguém com muitos anos de estrada foi um desafio enorme. Agora estou no Xperience, e tenho um caminho a seguir com o meu próprio estilo, o que é muito bom.

O que é que o Xperience representa para si? Como é que abraçou este novo projecto?

Como já referi, o Xperience é o meu caminho a seguir. Representa um enorme desafio e uma grande entrega. Abracei este projecto porque vi nele viabilidade e por gostar de me tentar superar a mim mesmo.

Valdemar Txicomba. O seu nome está na restrita lista de “Chefs angolanos em ascensão”, da autoria do Luanda Nightlife. Como é que vê este reconhecimento?

Este reconhecimento foi uma surpresa enorme e bem-vinda. Com muita franqueza, era algo pelo qual não esperava. Agora penso em continuar a trabalhar para manter tal distinção. Gostaria de felicitar o Luanda Nightlife pelo trabalho que está a realizar em prol deste mercado, que cresce a olhos vistos.

Acha que implica um certo nível de responsabilidade?

Todos os locais por onde já passei sempre me preocupei com o factor responsabilidade. Agora é ainda maior, sempre lembrando que um líder tem de ser um modelo para com os subordinados e dar bons exemplos, o que é a minha maior preocupação.

O que é que falta fazer para que a gastronomia angolana seja caso de sucesso a nível mundial?

A gastronomia angolana é rica, só não é bem explorada. É necessário que os novos cozinheiros angolanos saibam aproveitar estes frutos e transformá-los. Assim como é importante a divulgação de eventos na televisão, rádio, Internet, etc. Temos de levar o que é nosso aos outros com orgulho.

Da sua parte, como é que prende contribuir?

Acho que já estou a contribuir quando dou os meus conhecimentos aos outros, ensinando os meus irmãos angolanos. Para além disso utilizo vários produtos nacionais na minha cozinha, de forma a contribuir para a dinamização da indústria alimentícia.

Considera Angola um bom país para estar ligado a esta profissão?

Angola sempre mostrou estar aberta a estra profissão, podemos ver isso pelo número de estrangeiros que exercem esta profissão aqui no país. Ser chefe de cozinha é algo com muito futuro em Angola.

Como chef, o que é que planeia para o futuro?

Tenho muito planos, mas o maior será conseguir divulgar a nossa culinária além-fronteiras. Uma das formas seria via televisão. Gostava muito de ter um programa só de cozinha, onde pudesse falar e mostrar comida tipicamente angolana com um toque gourmet. Quem sabe também abrir o meu próprio restaurante…

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