O responsável falava aos jornalistas à margem da apresentação, em Luanda, de um projecto de literacia financeira no sistema de ensino angolano, tendo defendido que "a primeira missão" do banco central "não é defender a todo o custo a paridade do kwanza", mas sim "provocar o ajuste da economia e criar condições" para garantir as metas de crescimento.
Em causa está a actual crise cambial que afecta o país, devido à quebra nas receitas com a exportação de petróleo, tendo o kwanza desvalorizado em poucos dias, já este mês, mais de seis por cento, face ao dólar norte-americano, mas com José Pedro de Morais Júnior a não prever, para já, uma tendência. "O mercado é que vai ditar", disse o governador, questionado pelos jornalistas.
Recordou ainda que o actual mercado cambial funciona com base em taxas flutuantes "influenciadas pelas oscilações das pressões da oferta e da procura", neste momento agravadas pela forte necessidade de divisas. "Mas estamos a desenvolver mecanismos para provocar o ajuste. Não só no mercado cambial, mas também no mercado monetário", disse ainda.
A moeda angolana ultrapassou na segunda-feira, em termos de taxa oficial de câmbio do BNA, os 118,9 kwanzas por cada dólar norte-americano, reflectindo a desvalorização de mais de 6,6 por cento desde 4 de Junho.
A cotação oficial está ainda distante dos preços praticados no mercado informal, a única solução face às dificuldades dos clientes em acederem a divisas junto dos bancos comerciais. Na rua, mas também nas casas de câmbio, a venda (aos clientes) continua acima dos 180 kwanzas por cada dólar.
O banco central anunciou a 28 de Maio a intenção de "descomprimir" a crise cambial no país, devido à crise do petróleo, que desde Outubro fez reduzir a entrada de divisas no país, quando então um dólar valia menos de 100 kwanzas.
O Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola defende, no seu relatório económico anual uma desvalorização imediata até 20 por cento na moeda nacional, face ao dólar, para travar a especulação no mercado paralelo. O documento, apresentado no passado dia 11, é uma das referências do plano económico em Angola e analisa, entre outros assuntos, as consequências da quebra da cotação internacional do crude.
Segundo disse à Lusa o diretor do CEIC e autor do estudo, o economista e professor universitário Manuel Alves da Rocha, foi feita uma “aproximação ao valor necessário para a desvalorização do kwanza, através de metodologias consagradas”. “A conclusão é que, num cenário óptimo de tentar travar a fuga do mercado paralelo, a desvalorização teria que tocar os 20 por cento. Num cenário mais 'soft' e gradualista a desvalorização tocava 10 a 15 por cento", explicou Manuel Alves da Rocha.
Questionado pela Lusa, o governador do BNA afastou para já este cenário de desvalorização repentina. "Nós temos no mercado cambial mecanismos perfeitamente estabilizados, o nosso departamento de mercados tem realizado duas a três sessões de leilões por semana e os movimentos dos operadores económicos têm sido consistentes com um determinado historial nesse mercado. Não me parece que haja mecanismos bruscos que possam ser antecipados", disse José Pedro de Morais Júnior.