Em entrevista à Lusa, o presidente do grupo, Miguel Oliveira, destaca que o objectivo é, neste momento, consolidar em vez de expandir as operações em Angola, num cenário que exige “cautela e prudência”.
Numa conjuntura em que as divisas são escassas e comercializando apenas equipamentos importados, a Cimertex procura assegurar que os clientes conseguem ter acesso a moeda estrangeira.
“Obviamente que é um factor que nos condiciona, no sentido em que, além da venda em si, temos que assegurar a parte das divisas, temos de assegurar que há condições para se poder fazer o negócio e podermos pagar ao fornecedor estrangeiro”, salienta.
A Cimertex Angola actua principalmente no segmento das obras públicas e na indústria mineira, que tem vindo a ganhar relevo nos últimos anos, impulsionada por políticas públicas para diversificar as fontes de divisas, tornando-se o principal motor de vendas.
“Temos tido uma procura muito forte vinda do sector mineiro. Este sector tem sido um verdadeiro ‘boom’”, adiantou, revelando que a empresa faturou em média 50 milhões de dólares anuais nos últimos quatro anos.
Por outro lado, o líder da Cimertex admite interesse em entrar no segmento de aluguer no futuro, mas reconhece que o país ainda não oferece as condições logísticas e culturais necessárias.
"O cliente exige proximidade e disponibilidade imediata, algo ainda difícil de garantir num país com estas dimensões", afirma.
Angola representa atualmente cerca de 30 a 35 por cento da faturação do grupo, que está também presente em Cabo Verde e Itália. Mas já houve anos em que o peso do mercado angolano superou os 50 por cento.
A entrada da Cimertex em Angola remonta a 1992, um período conturbado entre o fim da guerra civil e o reinício das confrontações, que acabou por ser a primeira etapa do processo de internacionalização da empresa.
Em 1995, a empresa, que celebrou esta semana o seu 30.º aniversário no país, foi oficialmente estabelecida em Angola, mantendo uma actividade reduzida nos primeiros anos.
A viragem deu-se com a assinatura dos acordos de paz, em 2002, e o início da reconstrução do país, que fez aumentar drasticamente a procura por máquinas pesadas.
“Até 2008, o crescimento foi tão grande que não estávamos preparados para responder a tantos pedidos”, admite Miguel Oliveira.
Nessa altura, a Cimertex investiu na construção de uma sede própria em Viana, que integra oficinas, armazém, formação técnica e stocks de peças e equipamentos.
A entrada da japonesa Komatsu — uma das marcas representadas pela empresa, a par da Sandvik e da Bonga — no capital da Cimertex, a partir de 2013, é encarada como uma garantia adicional de confiança.
“É uma participação que muito nos orgulha, porque significa que a própria fábrica acredita, apoia e aposta naquilo que nós fazemos (…) o que confere também ao cliente um grau de confiança no fornecedor”, destaca Miguel Oliveira.
Actualmente, a empresa emprega 170 trabalhadores em Angola, e tem equipas destacadas para apoio pós-venda em várias regiões do país.
Nos próximos cinco anos pretende deixar de depender de técnicos expatriados nesse segmento, apostando na formação de quadros locais, através de formação interna e parcerias com o Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (INEFOP) e outros centros.
“Já passaram por nós mais de 120 técnicos em formação, muitos dos quais hoje integram os nossos quadros”, adiantou o responsável do grupo.
Neste momento, as incertezas em Angola e no mundo fazem com que a Cimertex tenha, para os próximos cinco anos, o objectivo de consolidação.
“Não temos a porta fechada a novos desafios, contudo não o procuramos activamente. Qualquer nova geografia exige investimentos e nós, neste momento, preferimos canalizar os fundos para a consolidação do mercado onde já estamos”, conclui o presidente da Cimertex.