“Podemos criar um ecossistema financeiro forte no continente e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) pode ter um papel importante na aproximação entre nós, trabalhar com os governos para acelerar as reformas e garantir que temos um ambiente seguro para a aplicar os nossos recursos”, afirmou Armando Manuel, num evento à margem dos encontros anuais do BAD, que terminam esta Sexta-feira em Nairobi.
“Em termos financeiros, vemos, por exemplo, uma série de fundos de pensões no continente com poupanças avultadas. Mas a ideia é como podemos criar os instrumentos de mitigação de risco. Por exemplo, instrumentos de mitigação de risco monetário que possam obter esses recursos e distribuí-los”, defendeu o também antigo ministro das Finanças angolano e que lidera o Fundo Soberano desde Dezembro passado.
O FSDEA foi criado pelo Governo com um capital líquido de 5000 milhões dólares das receitas da exportação de petróleo.
"Temos adoptado, há quase dez anos, vários activos de estratégia global, procurando crescimento a longo prazo, maioritariamente concentrado em títulos (...). Mas temos também uma presença activa no continente, onde investimos em alternativas em sectores como a hotelaria, a exploração mineira, as Tecnologias de Informação e Comunicação, e estamos fortemente concentrados no sector agrícola”, explicou, durante a participação no evento do BAD sobre “Financiamento da transição em África num sistema financeiro global em mudança”.
“Por exemplo, as culturas de rendimento, as proteínas animais e vegetais. Não faz sentido que África continue a importar carne de aves de capoeira, quando demora 35 dias para nascer uma galinha, 20 dias a incubar o ovo, algumas horas a esmagar o grão para alimentar. Isto é exequível e acreditamos que, ao fazê-lo, podemos obter lucros. Mas também podemos criar empregos para os jovens e apoiar a transformação económica tão necessária para o continente”, defendeu.
Armando Manuel avançou igualmente que o FSDEA também tem apostado no sector da saúde: “Sobretudo, do fabrico de medicamentos genéricos e temos uma enorme apetência por activos ecológicos”.
“Por exemplo, estamos actualmente a desenvolver um activo verde composto por 53.000 hectares com o potencial de aumentar a escala para 200.000 hectares. Ao fazê-lo, estamos não só a investir na cadeia de valor florestal, mas também a criar condições para explorar facilmente o mercado de obrigações e mobilizar esses recursos de obrigações verdes, apoiando a transformação económica”, disse ainda.
Defendeu que a estratégia do FSDEA “consiste em mobilizar capitais privados”, para com isso “fortalecer” o balanço.
“Por exemplo, em Angola, onde colocamos um dólar, esperamos trazer os dois, três, quatro dólares do exterior. Trata-se de estabelecer parcerias com os gestores de activos, os fundos de pensões ou os fundos soberanos de riqueza, os bancos de investimento”, explicou, avançando a aposta “forte” do fundo angolano nas infraestruturas e a possibilidade de entrar nas energias renováveis.
Para Armando Manuel, na capitalização destes investimentos, a parceria com os bancos de desenvolvimento, dando como exemplo o BAD, é fundamental.
“Considerando a vantagem comparativa que essas instituições têm em termos de conhecimento. A vantagem comparativa que têm (...) no apoio aos governos para acelerar as reformas, para criar um ambiente de negócios no qual podemos utilizar os nossos recursos de forma segura”, concluiu.
O Grupo Banco Africano de Desenvolvimento é a principal instituição africana de financiamento do desenvolvimento e reúne-se desde Segunda-feira em Nairobi para debater "A Transformação de África, o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento e a Reforma da Arquitetura Financeira Global", com 3000 participantes, entre políticos, governantes, economistas e especialistas de várias áreas, de todo o mundo.