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Ministro da Justiça diz que homenagem às vítimas de 27 de Maio é momento de espiritualidade

O ministro da Justiça e Direitos Humanos disse esta Terça-feira, em Luanda, que a homenagem às vítimas do 27 de Maio representa um momento de “grande espiritualidade”, admitindo que muitos ainda não se revêem neste processo.

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Francisco Queiroz, que falava na qualidade de coordenador da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (Civicop), convidou a participarem da homenagem, além dos seus integrantes, todas os angolanos e com a sua presença manifestarem "o seu apoio ao perdão e reconciliação e ao apelo ao diálogo nos conflitos políticos".

Segundo o governante, o acto servirá também de pontapé de saída na atribuição de certidões de óbito às famílias, com 67 pedidos até ao momento, dos quais foram emitidos 43 certificados de óbito, dos que perderam a vida, nesta data conhecida na história do país como de uma alegada tentativa de golpe de Estado, em 27 de Maio de 1977.

"Vamos iniciar a entrega das certidões, muitas que já foram solicitadas e que estão com a comissão respectiva e vamos assim iniciar o movimento de atribuição de óbitos", disse o ministro.

O governante aproveitou o momento para agradecer à Fundação 27 de Maio por ter estabelecido uma "relação de parceria com a Civicop na organização" da romagem do próximo dia 27 de Maio", o primeiro acto governamental de homenagem às vítimas após 44 anos do evento.

Francisco Queiroz admitiu que há pessoas que não se revêem na cerimónia, "porque pensam que o caminho era outro, talvez o da vingança, o da culpabilização, da responsabilização".

"Há um trabalho ainda que temos que fazer para todos caminharmos no mesmo sentido e é isso que temos que continuar a fazer e é o nosso compromisso", afirmou.

Na Quarta-feira, o Presidente, João Lourenço vai dirigir uma mensagem à nação relativa à data.

Para Quinta-feira, o programa em alusão à data, que vai contar com a presença de sobreviventes e órfãos, prevê dois momentos, o primeiro no cemitério de Santa Ana, e o segundo na Praça da Independência, onde se encontra a estátua de Agostinho Neto, com deposição de uma coroa de flores em ambos os espaços, discursos e a entrega de dois certificados de óbito às órfãs das vítimas.

Entretanto, a Plataforma 27 de Maio, que integra outras organizações relativas ao acontecimento, já se demarcou deste acto, considerando-o uma "encenação teatral" do Governo para "esquecer o passado", tendo igualmente anunciado a sua desvinculação da Civicop.

Em 27 de Maio de 1977, uma alegada tentativa de golpe de Estado, numa operação aparentemente liderada por Nito Alves – então ex-ministro do Interior desde a independência (11 de Novembro de 1975) até Outubro de 1976 –, foi violentamente reprimida pelo regime de Agostinho Neto.

Seis dias antes, em 21 de Maio, o MPLA expulsara Nito Alves do partido, o que levou o antigo ministro e vários apoiantes a invadirem a prisão de Luanda para libertar outros simpatizantes, assumindo paralelamente, o controlo da estação da rádio nacional, ficando conhecido como "fracionistas".

As tropas leais a Agostinho Neto, com apoio de militares cubanos, acabaram por estabelecer a ordem e prenderem os revoltosos, seguindo-se, depois o que ficou conhecido como "purga", com a eliminação das fações, tendo sido mortas cerca de 30 mil pessoas, na maior parte sem qualquer ligação a Nito Alves, tal como afirma a Amnistia Internacional em vários relatórios.

Em Abril de 2019, o Presidente ordenou a criação de uma comissão (a Civicop), para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2002 (fim da guerra civil).

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