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Economista afirma que PR colocou à frente da Sonangol responsável pela crise

O analista económico Carlos Rosado de Carvalho afirmou que as mexidas na administração da Sonangol colocaram à frente da petrolífera quem “aparentemente teve responsabilidades” na crise de combustíveis que afectou o país.

António Pedro Santos:

"Há aqui uma questão que eu acho um pouco estranha: pelo menos do ponto de vista formal, as pessoas que ficaram [no Conselho de Administração, primeiro exoneradas e, depois, novamente nomeadas] eram supostamente quem tinha a ver com aquilo que aconteceu", sublinhou Rosado de Carvalho, em declarações à agência Lusa.

O antigo director do semanário económico Expansão e docente universitário notou que o novo presidente de Conselho de Administração da Sonangol EP, Sebastião Gaspar Martins, tinha, na anterior direcção, o pelouro da logística e da distribuição.

"O novo PCA tinha o pelouro da Sonangol Logística e também o da Sonangol Distribuidora. Também fica o responsável pelas Finanças, bem como o que tinha o pelouro da Comunicação. Ora, são aparentemente três áreas que têm muito a ver com isso", argumentou.

O país foi afectado desde Sexta-feira pela escassez de combustíveis, situação que entretanto já está praticamente resolvida, o que levou o Presidente João Lourenço a exonerar na Quarta-feira vários membros do Conselho de Administração da Sonangol, a petrolífera estatal que tem a seu cargo a distribuição de gasolina e gasóleo.

A exoneração foi precedida, na Terça-feira, de uma reunião que João Lourenço realizou com a equipa económica do Governo e com o até então presidente da petrolífera estatal, Carlos Saturnino, em que se concluiu que “a falta de comunicação" entre a Sonangol e o Governo foi determinante para a crise.

Num comunicado oficial, a empresa referiu que, face a dificuldades em obter moeda estrangeira, houve constrangimentos na importação dos combustíveis, pagos em dólares.

"Face àquilo que aconteceu no país e às explicações desencontradas sobre a justificação do que aconteceu, penso que alguma coisa tinha de ser feita. É como se diz, tinham de rolar cabeças", afirmou à Lusa Rosado de Carvalho, considerando que a Sonangol tem desde sempre "comunicado muito mal" em situação de crise.

"Quase que culpa os automobilistas pelas faltas [de combustível. A justificação que foi dada não foi muito convincente. As Finanças têm a ver porque, aparentemente, é um problema de falta de pagamento e o sector das Finanças tinha a responsabilidade disso", acrescentou.

Para Rosado de Carvalho, a decisão de João Lourenço "faz sentido" porque "pode ser um sinal para as outras empresas públicas" e para garantir que o Presidente angolano "não vai deixar a culpa morrer solteira".

"A principal causa isto, que é conhecida de toda a gente, e sempre existiu, consiste na definição dos preços dos combustíveis. A Sonangol vende os combustíveis abaixo do preço. O Governo pode obrigar a Sonangol a vender abaixo do preço, mas tem de arranjar financiamento para cobrir [a diferença]. O subsídio está implícito e tem de o cumprir. Não podemos é querer o sol na eira e a chuva no nabal. Isso é uma situação completamente impossível", explicou.

Para Rosado de Carvalho, na altura da fixação dos preços dos combustíveis, em 1 de Janeiro de 2016, foi liberalizado o mercado do gasóleo, já depois de ter acontecido o mesmo ao da gasolina, o que trouxe um "outro problema".

"A Sonangol queria aumentar os preços e o Governo não aceitava aumentos por razões naturalmente eleitorais. Tivemos eleições em Agosto de 2017, acho que é a principal razão", realçou.

Instado sobre se Carlos Saturnino foi o "bode expiatório" de um problema maior, Rosado de Carvalho mostrou-se dividido.

"Não sei se foi bode expiatório se não. Mas se a Sonangol não comunicou ao Governo a verdadeira situação, penso que Carlos Saturnino tem naturalmente responsabilidades. Agora, se o Governo sabia, e que tem afinal a responsabilidade, parece que quebrou pelo elo mais fraco e, desse ponto de vista, é o bode expiatório. Mas cabe a Carlos Saturnino dizer verdadeiramente o que se passou”, considerou.

“O comunicado do Presidente da República sugere que foi a Sonangol que não comunicou ao Governo a gravidade da situação", concluiu.

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