“Angola é uma economia sub-explorada, tem um potencial enorme na agricultura, nos transportes, e por isso este nível de endividamento não é assim tão elevado”, disse Joseph Ribeiro à Lusa, à margem dos Encontros Anuais do BAD, que decorrem esta semana em Busan, na Coreia do Sul.
O nível de endividamento face ao PIB “é 67 por cento, o que é sustentável”, vincou o representante permanente no país, admitindo, ainda assim, que “está um pouco além do que se recomenda, que é à volta de 40 por cento, mas o que é importante é que o país continue os esforços de diversificação e que avance mais em termos de receitas internas”, alertou.
Questionado sobre a razão de Angola ter escolhido ir aos mercados financeiros em vez de procurar financiamento concessionado do BAD ou de outras instituições financeiras multilaterais que praticam taxas de juro mais baixas, Joseph Ribeiro respondeu: “Em primeiro lugar, muitas instituições como a nossa têm procedimentos internos para chegar a acordo e isso leva o seu tempo, portanto há uma questão de ‘timing’, depende do programa do Governo e do que quer fazer, e das necessidades de financiamento”.
Por outro lado, continuou, há a questão do volume: “Fizemos um apoio ao orçamento de mil milhões de dólares em 2014, e 3 mil milhões para o BAD é muito significativo, mas acredito que o Governo foi fazer um empréstimo no mercado por uma questão de oportunidade e ter acesso àquele valor no momento certo”.
Em Angola, o BAD tem uma carteira de projectos de 815 milhões de dólares, em áreas como a distribuição de energia e nas infra-estruturas de transportes, mas para o ano a prioridade vai para a agricultura e as infra-estruturas, nomeadamente energia e estradas.
“Na energia queremos contribuir, a partir do próximo ano, para a requalificação da rede de distribuição, num investimento de mais de 100 milhões de dólares, mas o valor final depende dos resultados do estudo prévio e também da nossa capacidade para atrair fundos de outros parceiros”, disse Joseph Ribeiro.
Além dos projectos, o BAD prepara também um novo apoio financeiro a Angola, cujo valor não está ainda decidido: “É possível que voltemos a fazer um novo apoio orçamental, havendo condições macroeconómicas e dependendo do risco de crédito e dos rácios do BAD”, que se junta ao apoio de mil milhões feito em 2014.
“Não há ainda uma resposta final do departamento que faz a avaliação de crédito cada país, não podemos avançar com números, estamos ainda em discussão sobre o montante, não será um valor tão alto, mas será significativo”, concluiu Joseph Ribeiro.
A reunião dos governadores do BAD decorre esta semana na Coreia do Sul e tem como tema oficial 'Acelerando a Industrialização de África', e decorre num contexto de crescimento fraco no continente e de dívida pública excessiva.
Os Encontros Anuais são uma das maiores reuniões económicas sobre o continente africano, juntando chefes de Estado, accionistas de referência no sector público e privado, governadores dos 80 bancos centrais que são accionistas do BAD e académicos e parceiros para o desenvolvimento.