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Matias Damásio no Coliseu: um concerto de “Loucos”?

Sobravam poucos dos 3500 lugares que constituem a lotação máxima do Coliseu do Porto. O culpado, Matias Damásio. Ídolo em Angola, escolheu o momento certo para partir à conquista de Portugal. De Semba no pé e sorriso no rosto não deixa dúvidas: é muito mais que um sucesso passageiro e milhares de visualizações no YouTube. Haja coração.

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À porta vendiam-se bilhetes de última hora e distribuíam-se panfletos. À medida que o relógio se aproximava das 21h30 eram cada vez menos as cadeiras vazias. Idade não é regra quando o mote são espectáculos de Matias Damásio. Nem gosto. Fãs de Anselmo Ralph ou de Toni Carreira relembram concertos passados. Por entre selfies comenta-se o resultado do Benfica. O burburinho desvaneceu pelas 21h45. As luzes apagam-se e soam os primeiros acordes de uma viola que adivinha o que aí vem.

Um Matias humilde e de ritmo no pé – como sempre – entoa “Vim Devolver”. ‘Recomendações’ à parte, um Coliseu quase esgotado está de telemóvel na mão, pronto a imortalizar momentos. Abre-se um sorriso “do tamanho de Angola”: “Boa noite Porto! É um prazer muito grande. É a minha estreia nesta sala e espero fazer desta uma noite memorável para todos vocês”.

Provando que não é apenas um cantor de baladas, o benguelense foi arrancando aplausos e passos de dança a um público ainda habituado ao conforto dos assentos. O diálogo era constante e, por vezes, até recíproco. “Venho de um país que se chama Angola. Um país que viveu muitos anos de guerra. Passei por isso. Cada um de nós perdeu pelo menos um familiar ou amigo”, conta, emocionado. Pedindo uma salva de palmas para o seu país, introduz “Angola (País Novo)”, o incontornável tema dedicado à pátria. Portugal escuta, atento, enquanto Matias canta a “história de um povo, que tem tudo para sorrir de novo”.

Tempo para dançar o Semba de Angola. “Beijo Rainha” e “Matemática do Amor” não deixaram esconder o jogo de cintura do cantor de 34 anos, que convidou duas “garinas” para se juntarem a ele em palco.

Consciente de que não haveria uma pessoa na sala que não tentasse a sua foto do momento, Matias agradeceu então todas as mensagens de “amor e de carinho” que lhe chegaram pelas redes sociais. Desculpando-se por não poder nomear cada uma individualmente, explicou que havia uma história que não poderia deixar passar. Chama ao palco uma fã, que explica ter comprado o bilhete em Fevereiro, apesar de uma doença oncológica não lhe garantir a presença nesta noite. “São essas pessoas que nos marcam. Não há dinheiro que pague”, afirma um Matias de lágrima fácil perante um Coliseu que aplaudia em pé. E em pé ficou, para entoar em uníssono “Os Meninos do Huambo”, poema de Manuel Rui Monteiro, imortalizado pelo português Paulo de Carvalho.

Dois “kotas” muito especiais e a surpresa da noite

Sem que ninguém olhasse para o relógio, os minutos foram passando e o espectáculo já ia a meio. O sorriso de Matias era uma constante. Mais ainda quando apresentou “um kota que já não gosta muito de andar de avião”, mas que veio até ao Coliseu. Surge Calabeto, músico angolano com mais de 40 anos de carreira e um dos nomes grandes do Semba. Juntos cantam “Bomba” e disputam passos de dança. À saída, Calabeto anuncia uma surpresa, perante o olhar atento de Matias e o entusiasmo de uma sala já na ponta das cadeiras…

Pela mão da Sony Music, que esteve ineditamente um ano à espera que o artista quisesse editar um disco no país, Matias Damásio recebe o seu primeiro Disco de Ouro. “Por Amor” vendeu mais de 20 mil exemplares em Portugal.

Não escondendo a felicidade, Matias contava uma nova história. O relato de alguém que cresceu pobre e com vergonha, mas que descobriu que “é o amor que nos torna grandes”. Com Raul Damásio na plateia, Matias homenageia o “kota maior”, ao cantar “Papá” acompanhado pela sua viola.

Camões não inventou palavras…

Era incontornável. Aproximava-se a passos largos o momento da noite. Aos primeiros acordes, vários “Loucos” assumidos na plateia entraram em directo nas redes sociais. Afinal, era este o momento que ninguém podia perder. Com a letra na ponta da língua, o Coliseu acompanhou uma versão praticamente acústica do maior sucesso do cantor em terras lusas.

Como se o ambiente não estivesse suficientemente “em alta”, Matias desce do palco e distribui rosas pelas mulheres da plateia enquanto canta “Bouquet de Rosas”. Multiplicaram-se as fotos, os sorrisos, a felicidade espelhada num público rendido aos ritmos africanos.

Não satisfeito, Matias guardou bem guardada uma surpresa para o final do espectáculo. Latón Cordeiro, vocalista dos Kalibrados e co-autor do hit das pistas de dança “Gasosa”, sobe ao palco do Coliseu para o dueto “A Culpa é Dela”.

Adivinhava-se com alguma facilidade o êxito que faltava. “Quero fazer-te sorrir, quando a lágrima cair”… Um Coliseu já esquecido de que haviam cadeiras acompanhou Matias no sucesso “I Wanna Be Your Hero”.

Impunham-se as despedidas, os agradecimentos à dúzia de músicos que constituem a banda e um adeus emocionado ao público portuense. Claro que Matias ainda não ia embora. Claro que todos esperavam um regresso “de Loucos”, e assim foi. Poucos minutos faltavam para a meia-noite quando o Coliseu voltou a entoar em uníssono “E o nosso amor é lindo”. E foi mesmo.

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