Em conferência de imprensa, esta Terça-feira, chefes militares e de segurança da FLEC-FAC, avançaram as razões da sua dissidência, justificadas com dificuldades alimentares, sofrimento nas matas e promessas não cumpridas pela liderança da organização.
Trata-se do chefe de Estado-maior adjunto da FLEC, Martins Chinkoko, do chefe da segurança, Zingo Zon, do comandante da região militar do Nkuto, João Maria Dunge Xerife, do secretário da frente norte Bucu Zau e Necuto, António Gabriel, do chefe adjunto da segurança, Alberto Paquita, e do comandante da quarta região militar da frente sul, Francisco Candoli.
"Tanto sofrimento, comer com dificuldade (...), por isso voltámos à nossa terra para servir o Governo de Angola, lá há muito sofrimento, não estamos a aguentar", disse Martins Chinkoko, chefe de estado-maior adjunto da FLEC-FAC, em declarações à Televisão Pública de Angola (TPA), destacando que os materiais de guerra utilizados nas suas acções são obsoletos.
"Já sofremos muito nas matas", acrescentou Martins Chinkoko, destacando os anos que trabalhou com Jean-Claude Nzita e Emmanuel Nzita, líderes da FLEC-FAC.
Por sua vez, António Gabriel, secretário da frente norte Buco-Zau e Necuto, referiu que não pretendem ver mais sangue derramado e querem a paz.
"O sangue derramado já foi demais, a paz é o que nós queremos (...) queremos trabalhar para ajudar as famílias", salientou.
"Logo que eu cheguei aqui, estou alegre da forma que o pai [Governo] já me recebeu, estou muito satisfeito", declarou João Maria Xerife.
De acordo com Zing Zong, a partir de agora estão disponíveis a trabalhar com o Governo, para que os restantes membros da organização abandonem também a FLEC-FA, bastando que façam o apelo.
"Estamos a solicitar apoio ao Governo para que o grupo entre a partir de Cabinda sem dificuldade", expressou.
O Governo emitiu uma nota de protesto, desmentindo o suposto cessar-fogo anunciado pela FLEC-FAC, para dar lugar a um "diálogo sério com as autoridades angolanas para pôr fim ao conflito de Cabinda", repudiando "as supostas negociações entre o partido político UNITA e o citado grupo terrorista conforme propala certa imprensa".
Na nota, o Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social refere que "a situação socio-política e militar de Cabinda é estável", negando a existência de qualquer conflito armado no território.
A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) anunciou em Março passado que vai submeter ao parlamento um projecto de resolução para "exigir o fim imediato e incondicional das hostilidades militares" na província angolana de Cabinda e "início imediato das negociações de paz".
O grupo parlamentar da UNITA sustenta que a sociedade civil de Cabinda, os movimentos reivindicativos e a população querem e defendem o diálogo inclusivo para a resolução do problema político-militar e histórico de Cabinda.
A FLEC/FAC reivindica há vários anos a independência do território de Cabinda, província no norte de Angola, de onde provém grande parte do petróleo do país, evocando o Tratado de Simulambuco, de 1885, que designa aquela parcela territorial como protectorado português.
O Estado-Maior das Forças Armadas Cabindesas (FAC) anunciou na Segunda-feira que foi decretado um cessar-fogo unilateral, com efeito imediato, por um período de dois meses, em todo o território da província de Cabinda.
No comunicado refere-se que a decisão, em concordância com a direcção política da FLEC-FAC, surge após consultas internas com a direcção política da FLEC e "insere-se num desejo claro de criar um clima propício para um diálogo sério com as autoridades angolanas para pôr fim ao conflito de Cabinda".
"A decisão da FLEC-FAC surge também na sequência da divulgação da iniciativa do partido angolano UNITA e da proposta que disse que irá apresentar ao parlamento angolano", refere-se no comunicado.