"Para os decisores políticos, há três prioridades simultâneas: reduzir as vulnerabilidades macroeconómicas, mas ao mesmo tempo responder às necessidades de desenvolvimento e assegurar que as reformas são política e socialmente aceitáveis", disse Thibault Lemaire.
Em entrevista à Lusa no final dos Encontros da Primavera do Banco Mundial e do FMI, que terminaram no Sábado em Washington, o economista vincou que "a turbulência económica na região não resulta directamente das tarifas" impostas pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao comércio com os países, mas sim através dos efeitos indirectos dessa medida.
"Os efeitos são principalmente indirectos; para a região o canal de transmissão mais importante, principalmente para os exportadores de petróleo como Angola e Nigéria, é a redução dos preços das matérias-primas", disse Thibault Lemaire, reconhecendo que as condições económicas globais também têm um impacto significativo na região.
"Os efeitos secundários devem-se ao abrandamento da procura mundial, aumento da restritividade das condições financeiras, potenciais pressões cambiais e, globalmente, maior incerteza económica", afirmou.
Na entrevista à Lusa no final dos Encontros, o economista do departamento africano do Fundo salientou que, apesar dos desafios, "há factores de resiliência na região", que deverá abrandar o crescimento para 3,8 por cento este ano, uma revisão que mostra um corte de 0,4 pontos percentuais face às previsões de Outubro.
No ano passado, a região "excedeu as expectativas", tendo registado um crescimento de quatro por cento, acima dos 3,6 por cento registados em 2023, e abaixo dos 4,2 por cento previstos para 2026.
"Havia sinais de aceleração do crescimento no quarto trimestre do ano passado, devido a melhores políticas e uma redução dos desequilíbrios macroeconómicos, incluindo a desaceleração da inflação para 4,5 por cento, em média, no início deste ano, e uma estabilização do rácio da dívida pública, para menos de 60 por cento do PIB, disse o economista.
"A turbulência mundial traz vários choques e veio ensombrar as perspectivas económicas", afirmou Thibault Lemaire, salientando que "apesar dos factores adversos a nível global, 11 dos 20 países com maior taxa de crescimento estão na África subsaariana, o que demonstra a resiliência e o potencial da região".
Entre os 45 países da África subsaariana, 24 têm programas de financiamento em vigor no FMI, que desde 2020 financiou os países com mais de 65 mil milhões de dólares, cerca de 57 mil milhões de euros, a maior parte concessional, salientou Lemaire, precisando que só no ano passado o financiamento foi de 8 mil milhões de dólares (7 mil milhões de euros), a que se juntam mais 800 milhões de dólares, mais ou menos 700 milhões de euros, já este ano.
"Para agora e para o futuro, queria lembrar que somos a instituição criada para ajudar os países a lidar com choques externos, e é exactamente esse o porquê de estarmos aqui; reiteramos sempre que estamos prontos para apoiar os países quando enfrentam choques exógenos, e esta disponibilidade vai continuar", concluiu.