Ver Angola

Política

Portugal devia rever a forma como se relaciona com antigas colónias, considera deputado da UNITA

O deputado Nelito Ekuikui, que lidera a ala juvenil da UNITA, considera, em entrevista à Lusa, que Portugal devia alterar a forma como se relaciona com as antigas colónias, designadamente Angola.

: Facebook Governo de Angola
Facebook Governo de Angola  

"Portugal devia rever as relações com as suas antigas colónias. Devia rever. E a relação devia ser fundamentalmente entre Estados. Entre Estados pressupõe relações entre povos", defende o antigo secretário da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) em Luanda, cuja actividade durante a campanha para as eleições de 2022 resultou numa inédita vitória sobre o partido no poder desde a independência, o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA).

Partindo do princípio de que a UNITA "também deve manter relações boas com Portugal, com todas as lideranças políticas" da antiga potência colonial, Nelito Ekuikui é de opinião que Portugal tem a sensibilidade de perceber as necessidades dos angolanos, da "necessidade que o povo angolano tem de se libertar dos seus libertadores".

"O que nos parece, como angolanos, é que as antigas colónias protegem um poder e protegem o poder de quem está lá, porque as relações são mais de âmbito comercial, económico e não entre Estados. Entre Estados pressupõe relação entre povos, culturas, identidades, língua. Isto é que nos aproxima a Portugal", acrescenta.

Socorrendo-se do que se passa com as antigas colónias francesas, que denunciam acordos e se afastam de Paris, Nelito Ekuikui interpreta essa situação como resultado de relações baseadas no interesse.

"Porque as antigas colónias protegiam o poder e mantinham acordos secretos para manutenção de um grupo hegemónico. Isto é que não é desejável para Angola, o que é desejável para Angola é que os governos de Portugal ou, se quisermos, Portugal, abra-se mais para a questão de Angola", diz.

"Quando essas relações são postas de parte, nós vamos apenas para um interesse, interesse este que, mais tempo, menos tempo, as novas lideranças de Angola, da África vão reclamar e podem fazer ruptura", antecipa.

"E nós não podemos caminhar para a ruptura, devemos caminhar para o diálogo. O que está a acontecer agora no Senegal, com a eleição do novo Presidente – que saúdo, um jovem –, o que aconteceu agora noutros países, o Mali, só para citar um em que chegam novos governos, pegam em acordos que estão a pôr para o lixo. Penso que não é justo que se faça isso", sustenta.

Porque, vinca, "os acordos devem ser respeitados. Devem, no entanto, também ser revistos".

A crítica estende-se à comunidade internacional, que não questiona, considera, a forma como MPLA se mantém no poder.

"A minha questão é sobre tudo o que Angola vive hoje. Angola vive uma miséria inaceitável e quando temos eleições o que nos parece é que a comunidade internacional protege um poder. E Portugal tem uma voz fundamental nas questões de Angola", destaca.

"Portugal é o centro da auscultação do que vai acontecer em Angola. Que Portugal seja o centro da auscultação, mas que ausculte na honestidade e dê a opinião em função daquilo que é o interesse do povo angolano, não dos interesses económicos de um pequeno grupo", adianta.

Sobre a mudança de poder em Portugal, resultado das eleições do passado dia 10 de Março, Nelito Ekuikui afirma que "o que é desejável, como é natural, é que a UNITA tenha uma boa relação com o novo Governo", que felicita.

"Foi uma disputa bastante difícil. Mas as democracias são efectivamente boas por isso. Ninguém ganha tudo e ninguém perde tudo. Portanto, temos aí um partido a crescer, da extrema-direita temos o PSD e o CDS a governar com uma margem muito pequena. E o PS a fazer oposição. Democracia é isso mesmo", conclui.

Relacionado

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.