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Defesa

Angolanos divididos entre a estabilidade de 15 anos de paz e as dificuldades diárias

Angola assinala esta Terça-feira 15 anos de paz com a população dividida entre os ganhos do maior período de estabilidade em quatro décadas de independência e reclamando que um país "verdadeiramente reconciliado" precisa de melhorias na saúde, educação ou emprego.

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"São 15 anos de paz e valeram a pena, felizmente a guerra terminou e, apesar de alguns problemas que ainda vivemos, como a fome que assola muita gente e a falta de emprego para os jovens, o país está estável", comentou à Lusa João Paulo Juca, funcionário do Estado.

Tinha 24 anos quando viu a paz chegar a Angola, lamentando hoje a fome e a falta de emprego que ainda assola muitos angolanos como as grandes "manchas" do país na actualidade, além da "crise que veio piorar ainda mais".

Após a morte em combate de Jonas Savimbi na província do Moxico, praticamente dois meses antes, o Governo liderado pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), assinava em Luena, com a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) a 4 de Abril de 2002, um memorando de entendimento complementar ao protocolo de Lusaca.

Para Carlos Kimbanda, técnico de relações internacionais, a paz não é total quando muitos ainda sofrem, diariamente, para tentar arranjar sustento, defendendo por isso que em 15 anos o país não se desenvolveu.

"É difícil falar em paz em Angola quando nós continuamos a sofrer, qual paz, qual que se o país está pior do que em tempo de guerra? Olha, eu venho do Zango e durante o trajecto vi muita gente a caminhar a pé, sem uma rede de transporte, muita gente a sofrer. Não posso falar de paz com estas condições que o país nos oferece", desabafou.

Com 37 anos, Kimbanda diz sonhar com uma Angola "integradora e reconciliada", mas sublinha que o país apenas cresceu em infraestruturas e não se desenvolveu.

Com o país a viver a pior crise económica do período de paz, e com milhares a morrerem anualmente vítimas de doenças como a malária ou a Sida, a população assume a preocupação com o básico.

"Angola registou, sim, algum crescimento de infraestruturas. Algumas pontes e edifícios foram construídos e apenas isso mesmo. Mas o país não se desenvolveu, não temos um desenvolvimento eficaz e não posso dizer que estamos em paz", acrescentou Carlos Kimbanda.

As comemorações de 2017 decorrem no Huambo, feriado nacional, sob o lema "Paz, Estabilidade e Desenvolvimento", celebrações que decorrem até ao dia 20 de abril, segundo o Ministério da Administração do Território.

Alheio às cerimónias, o funcionário público Paulo Pinto admite que "o país está melhor", apesar da crise económica, com a quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo.

"O país está em crise, mas esta crise é passageira. A maior dificuldade em Angola é o emprego e a falta de condições básicas para as pessoas, porque sem emprego não conseguimos fazer nada. O meu salário continua a ser pouco para as despesas com a família, mas tenho fé que a situação vai melhorar", desabafa.

Por sua vez, a enfermeira Maria Luísa, de 30 anos, lamenta a actual condição sanitária do país, mas ao mesmo tempo realça que a paz foi "um ganho para Angola".

"Angola em paz durante 15 anos foi um ganho do nosso governo e aí sim posso dizer que valeu a pena estarmos em paz durante todo esse tempo, ainda temos muito por fazer para termos outros ganhos, mas tem valido a pena encarar desta forma o país", observou.

Ainda assim, esta enfermeira de Luanda anseia por mudanças no sector onde trabalha e na educação: "Acho que a mudança deveria mesmo começar daí, porque a nossa saúde não está nada boa. Depois posso apontar também a educação, que é o nosso grande problema e ainda a falta de emprego para muitos jovens".

Já para o contabilista Manuel Nlandu, de 40 anos, falar de paz "é sempre motivo de alegria", mas também aponta que há muito ainda por fazer.

"Mas valeu a pena, apesar de precisarmos de melhorias na saúde, educação, água, energia e mais educação para a população. É isso que todos nós desejamos para o país", rematou.

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