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Salários de 533 dólares e turmas de 60 alunos levam professores de Luanda à greve

Com salários de 533 dólares, para uma inflação anual de 40 por cento, e turmas com mais de 60 alunos, os professores de Luanda dizem-se desmotivados, justificando com isso a greve convocada para entre 5 e 7 de Abril.

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O acerto de categorias, o aumento salarial, o mau enquadramento de alguns professores, a excessiva carga horária e elevado número de alunos por turma são algumas das queixas que a Lusa ouviu por parte dos professores.

Dizem ainda que "não é possível" haver melhoria de ensino com a actual "falta de motivação" no seio da classe.

"Nós temos problemas de carga horária, temos professores que leccionam no período da manhã e de tarde, temos também um número excessivo de alunos por turmas, com mais de 45 alunos. Outro grande motivo [de reivindicação] é o acerto de categorias", contou à Lusa o professor Miguel Domingos.

Há mais de 15 anos a leccionar no ensino secundário, Miguel Domingos recebe por mês menos de 586 dólares e considera que "pelo menos" deveria auferir o dobro desse valor, por possuir bacharelato.

"Professores que foram qualificados como professores médios ou primários em 2010 actualmente melhoraram o seu perfil e muitos deles já são licenciados, mas continuam com diferença salarial grande em relação aos outros. Parece-nos que os governantes não estão a ver a nossa situação, é triste", lamentou.

Os professores de Luanda convocaram uma greve às aulas na província, entre 5 e 7 de Abril, como forma de protesto contra a falta de resposta às várias reivindicações, entre as quais o aumento salarial.

Um protesto subscrito por Miguel Domingos, nem que seja para "mostrar que as coisas no sector do ensino não vão bem".

A paralisação, decidida após várias semanas de negociações com o Governo, deverá ser alargada a outras províncias do país.

Ana Maria lecciona no ensino primário há precisamente 30 anos e diz que não faltam motivos para contestar, face à actual situação a que estão submetidos os professores em Luanda.

"Tenho na minha turma 65 alunos quando a reforma [legislativa do sistema de ensino] diz que são 45 no máximo e 35 no mínimo. Eu trabalho no período da tarde, das 13h00 até às 18h00, e como se não bastasse o salário não compensa", disse.

Com uma renda mensal de 511 dólares, a professora revela que com o salário actual, também pouco superior aos 586 dólares, já há muito que "perdeu o seu poder de compra", já que não chega para suportar os gastos diários, que vão, pelo menos, da compra de água à alimentação, com preços que todos os meses sobem, pelo menos dois por cento.

"Tudo subiu e o nosso Governo está a tentar a minimizar as coisas, mas nem com isso", atirou Ana Maria.

Em declarações à Lusa, o secretário provincial de Luanda do Sindicato de Professores Angolanos (Sinprof), Fernando Laureano, fez saber que esta greve será "interpolada". Depois de Abril, "a segunda fase acontece no mês de Maio e a terceira fase da greve no mês de Junho", explicou.

"Agora, com essa greve, nós temos fé que desta vez pelo menos vamos ser ouvidos. Há quem diga que nós não devíamos aderir à greve porque estamos no período de eleições no país, mas estamos cansados de esperar por uma resposta das autoridades desde 2013", sustentou.

O Sinprof diz aguardar desde 2013 por respostas do Ministério da Educação e das direcções provinciais de Educação ao caderno reivindicativo, nomeadamente sobre o aumento do salário, a promoção de categoria e a redução da carga horária, mas "nem sequer 10 por cento das reclamações foram atendidas".

Para Luanda, no presente ano lectivo, foi anunciada a contratação este ano de mil novos professores. Nesta província, o Sinprof refere contar com 16.534 filiados, num universo de 28.000 professores.

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